segunda-feira, 31 de agosto de 2009

Fim de linha


O Oasis acabou. Bom, pelo menos até segunda ordem, devido a saída do guitarrista e principal compositor Noel Gallagher. A notícia não chegou a despertar um sentimento forte em mim, mas deve ser algo muito importante para tantos outros. Na realidade, ainda fica uma pulga atrás da orelha a cada anúncio polêmico dos irmãos Gallagher. Eles são bem chegados numa jogada de marketing e essa pode ser apenas mais uma para a coleção. Quando soube da mais nova briga, cheguei a pensar: "Droga, perdi a oportunidade de vê-los em São Paulo, recentemente". Mas será mesmo que há motivo para tal arrependimento? Creio que não.

Assisti ao Oasis na terceira edição do saudoso Rock in Rio, que agora corre o mundo descaradamente, levando o nome da Cidade Maravilhosa sem nos dar nada em troca. Naquele show, mesmo dia em que o Guns N'Roses deu as caras pela última vez no Brasil, os britânicos não se esforçaram tanto. Animaram com um punhado de hits, mas se empenharam mesmo foi em manter a pose blasé que lhes é característa. Algo bem cansativo, diga-se de passagem.

Já tendo cumprido minha "obrigação" nos idos de 2001, penso que fiz bem em não ter ido ao show desses polêmicos torcedores do Manchester City. Certamente, eles já fizeram coisas muito boas, especialmente nos três primeiros discos, especialmente no segundo, "What's the Story Morning Glory". "Be Here Now", o terceiro álbum, mesmo criticado por muitos, é um bom exempo dos momentos mais gloriosos da banda. Depois deste, confesso, perdi a paciência com os Gallagher. As confusões, as caras feias e o discurso "somos a melhor banda do mundo" ja não me diziam mais nada. Bom, que descansem em paz, pois.

domingo, 30 de agosto de 2009

A África romana


Há coisas nesse mundo que nos surpreendem de um modo impactante. No momento em que soube que estava a caminho da Líbia, tratei de pesquisar um pouco sobre o país e encontrei parcas informações sobre um sítio histórico romano nas cercanias de Trípoli, Leptis Magna. Numa rápida avaliação, levando em conta também que uma ida para a Líbia não é algo que acontece com frequência, julguei que merecia uma visita, mesmo nunca tendo ouvido falar de relevantes ruínas romanas em plena África.

Bom, se fossem apenas pequenas ruínas romanas, ja teria valido o esforço. Mas Leptis Magna é mais do que isso: é uma cidade romana à beira-mar, com dezenas de edificações, grandes avenidas e com um estado de conservação notável. Para além do relativo descaso que o governo líbio trata as suas ruínas, os prédios romanos se sustentam num estado mais digno que muitos dos seus congêneres na própria Roma. O teatro, o mercado, as termas e os seus fóruns datam de 2 a 4 séculos antes de Cristo e ainda mantêm viva a sensação de que houve vida intensa naquelas avenidas romanas. Pouco divulgada como é, Leptis Magna me impressionou ainda mais do que outro grande marco desta civilização, o Fórum Romano da hoje capital italiana. Concentradas em um só local, com um belo mar à frente, as ruínas romanas da Líbia são um tesouro histórico escondido no Norte da África. Mereciam levar o nome da Líbia internacionalmente, no lugar das estripulias do velho Khadafi.

quinta-feira, 27 de agosto de 2009

Na terra de Khadafi


A Líbia não é exatamente um lugar completamente desconhecido para a maioria dos brasileiros. Em algum momento, você já deve ter ouvido falar neste país. Mas quando se trata de ligar alguma informação da nossa memória a esta nação, muitas vezes impera a confusão. Primeiro, é comum a troca recorrente da Líbia pelo Líbano, este último país bem mais presente no imaginário brasileiro, por conta dos muitos imigrantes que vivem na região Sudeste e da comida sírio-libanesa que convencionamos chamar (generalizando) de árabe. Há também um questionamento recorrente: a Líbia está na África ou no Oriente Médio? Pode conferir no mapa, mesmo fazendo parte do mundo árabe, o país que foi colonizado pelos romanos, fenícios, turcos e - por fim - italianos, até o período da Segunda Guerra Mundial, localiza-se no Norte da África, logo ali entre a Tunísia e o Egito. Por fim, há o polêmico Muammar al-Khadafi, governante do país há nada menos que 40 anos. O homem que comanda este país árabe sob uma forte ditadura e implantou um sistema que se diz socialista, é popularíssimo entre os seus e habita as páginas dos jornais de todo o mundo com acusações de cunho terrorista. O mais curioso é que, mesmo com toda (má) fama de Khadafi, muitos não o ligam diretamente a Libia.

Envolto em todo esse misterio, não deixa de ser um prazer desvendar a Líbia, um país que, só por pertencer ao mundo árabe, já desperta as mais diferentes sensações. Ver todas as mulheres com as cabeças cobertas, mesmo que poucas usem a burca completa, perceber como ainda há segregação pesada entre mulheres e homens, entender o papel primordial da religião na vida daquelas pessoas - todos esses são pequenos desafios para o visitante. Imagine então para os estrangeiros que lá vivem e trabalham, como é o caso, por exemplo, dos engenheiros e administradores brasileiros que trabalham na ampliação do Aeroporto Internacional de Trípoli e na construção do Terceiro Anel Viário da mesma cidade. Mesmo sendo um local com amplas oportunidades - que ainda está no início do processo de reconstrução da infraestrutura, após o embargo de anos imposto pelos Estados Unidos - a Líbia é um país que exige amplo desprendimento por parte dos ocidentais.

A primeira questão básica é a proibição absoluta do consumo de qualquer tipo de bebida alcoólica. Se na conexão em Londres, vindo do Brasil, você comprar uma birita qualquer, pode se preparar para entregá-la de mãos beijadas às autoridades líbias. E não há muita chance de escapar, afinal sua bagagem passa por incríveis quatro equipamentos de raio-x. Se quiser beber, terá mesmo é que se entregar ao mercado negro, com álcool vendido a preço de ouro. Outro fator determinante é a diferença conceitual do lazer. Para o líbio, lazer é fumar imensos narguilés e comer. Algo que não é exatamente ruim, mas que deixa de ser interessante quando se é praticamente a única opção. Na Líbia, não há cinemas, teatros, casas de shows e boates - ao menos nos moldes que nós ocidentais estamos acostumados. Para se ter uma idéia, o fim de semana se resume à sexta; sábado e domingo são dias de branco, labuta normal. Tanto que o brasileiro que lá vive costuma dizer que a sexta de manhã é o seu sabado e a sexta de tarde é o domingo... Mas não se engane: mesmo com uma única folga oficial por semana, o líbio põe o trabalho como quinta prioridade, abaixo da religião, família, amigos e lazer, não hesitando em faltar por qualquer motivo. A mulher ocidental também pode sofrer na Libia, basta experimentar sair sem véu nas ruas e perceber os olhares lascivos dos árabes.

Pois, mas ainda que existam todas essas restrições - ou, melhor dizendo, diferenças culturais - a Líbia também oferece diversos encantos. Trípoli é uma cidade à beira-mar com uma orla bem cuidada e muito movimento nas ruas. O povo é receptivo ao brasileiro, muito por conta do futebol. A Medina, centro histórico e comercial da cidade, é imponente e traz vibrantes ruelas, que guardam muitos segredos e mercadorias baratas em ouro, prata e panos coloridos. Outra notável característica líbia é a inexistência da miséria, algo que a diferencia do resto da África. Claro, há pobres, mas longe de serem miseráveis. Talvez por esse motivo, a violência é mínima, não há notícias de assaltos e assassinatos. Um oásis para quem vive nas grandes cidades brasileiras.

Povo religioso, o árabe faz as cinco rezas diárias, como manda o Alcorão. Nas ruas da Medina, é impressionante o chamado dos alto-falantes das mesquitas, com uma ladainha exótica e eloquente. Neste momento, o árabe pára o que está fazendo, se limpa por completo e se apresenta puro para reverenciar a Alá. Na semana em que estive na Líbia, finalizavam-se os preparativos para o Ramadã, que começou no dia 21 de agosto. O Ramadã nada mais é que uma das mais importantes manifestações religiosas do mundo islâmico. Ao nascer do sol, o muçulmano não come, não bebe, não transa e nem fuma. Os mais radicais, nem escovam os dentes, para não correr o risco de engolir água. Quando o sol se põe, o atraso é tirado e eles comem e fumam por toda a noite. O jejum é completo por um longo mês, que este ano se mostrou ainda mais complicado, por ter caído em pleno Verão. Imaginem o que é sentir sede por um dia inteiro, num calor de 38 graus, e não beber absolutamente nada? Naturalmente, os turnos de trabalho são menores e a produtividade cai em 60%, afinal seria humanamente impossível manter a rotina. Tudo em nome da tradicão, que, na terra de Khadafi, é o que importa.

sábado, 15 de agosto de 2009

Complô da boa música


Os supergrupos não sao exatamente uma novidade. Nos idos de 1988, George Harrison, Roy Orbison, Bob Dylan e Tom Petty cometeram dois grandes discos sob a alcunha de The Traveling Wilburys, uma superbanda difícil de ser combatida. Foi o ultimo projeto de Orbison, que morreu dois meses depois do lançamento do primeiro álbum, uma nobre despedida em excelente companhia. Alguns anos antes, na década de 60, David Crosby, Stephen Stills, Graham Nash e - mais tarde - o reforço de luxo Neil Young se juntaram para um supergrupo folk: o Crosby, Stills, Nash & Young. Um bem-sucedido coletivo que até hoje se reúne sazonalmente. Voltando um pouco mais no tempo, mais precisamente entre 1962 e 1968, o Yardbirds foi casa de músicos em gestação, ainda distantes das lendas que se tornariam anos depois. Três dos melhores guitarristas de todos os tempos passaram por lá: Jimmy Page, Eric Clapton e Jeff Beck. Mesmo não tendo tocado todos juntos na mesma formação, foi nessa panela de pressão que eles surgiram.

Esse fenômeno, que causa um frio na barriga dos fãs, tornou-se ainda mais intenso nos últimos anos. Em 2006, o vocalista Damon Albarn (Blur e Gorillaz) se juntou com o baixista Paul Simonon (The Clash), o baterista Tony Allen (Fela Kuti) e o guitarrista Simon Tong (Verve e Blur) para formar o The Good, The Bad & The Queen. O supergrupo só lançou um disco em 2007, o suficiente para marcar o rock dos anos 2000. No cenário atual, entretanto, três nomes são imbatíveis quando se trata de grandes encontros. O primeiro deles é Jack White, do duo White Stripes. Possivelmente para evitar o possível desgaste do tête-à-tête com a baterista Meg White, Jack já formou outros dois grupos, os ótimos The Raconteurs e The Dead Weather (na foto). O primeiro não é exatamente um supergrupo, pois traz na sua formação três músicos de bandas meio obscuras. O segundo acabou de sair do forno e é composto por Alison Mosshart (The Kills), Dean Fertita (Queens of The Stone Age) e Jack Lawrence (que Jack trouxe a tiracolo do Racounteurs). O disco "Horehound" fez valer a expectativa em torno do projeto, com muito peso e entrosamento.

Os outros dois artistas que não dão ponto sem nó são Dave Ghrol (Nirvana, Foo Fighters) e Josh Homme (Queens of The Stone Age, Eagles of Death Metal, Desert Sessions). Não à toa, os dois estão juntos no novo projeto que vem tirando o sono de muito roqueiro: o Them Crooked Vultures. Só os dois juntos, reeditando a parceria inesquecível do melhor disco da banda principal de Homme, a obra-prima "Songs for the Deaf" do Queens of The Stone Age, já seria suficiente. Mas eles fizeram questão de convocar um dos melhores baixistas de todos os tempos, John Paul Jones, o homem por trás do baixo e do teclado do Led Zeppelin. Muito pouco se ouviu da banda até o momento, apenas trechos do primeiro e único show, um teaser do site (http://themcrookedvultures.com/) e muita especulação. O fato é que vai ser muito difícil sair algo ruim dessa quadrilha. A dica é acompanhar cada passo e torcer para o projeto vingar.

segunda-feira, 10 de agosto de 2009

Um artista incomum


Essa é uma escolha das mais difíceis, mas eu arriscaria dizer que Johnny Depp é o mais interessante dos atores em atividade. Quase que ouso mais e afirmo que ele é o melhor, mas lembrei de Philip Seymour Hoffman, Robert Downey Jr., Daniel Day Lewis, Javier Bardem e de monstros que mais nada tem para provar como Robert De Niro, Al Pacino, Dustin Hoffman e Jack Nicholson e a dúvida se instaurou. Bom, não dá mesmo para escolher um só, quem sabe um top ten? Melhor mesmo é deixar o momento "Alta Fidelidade" para depois.

Desde as escolhas pouco óbvias até a sua capacidade de encarnar os tipos mais variados, passando pela parceria interessantíssima com o cineasta Tim Burton, Johnny Depp encanta pela estranheza. Seu olhar traz uma autenticidade que cria uma cumplicidade com o público, que torce pelo seu personagem, mesmo que ele não seja politicamente correto. Depp já colocou nas telas tipos memoráveis e esquisitos até o talo como Edward Mãos de Tesoura, Ed Wood, Sweeney Todd e, claro, o tresloucado Capitao Jack Sparrow, da trilogia "Piratas do Caribe", mas também soube imprimir uma marca pessoal a personagens mais comuns como Donnie Brasco, o Gene Watson de "Tempo Esgotado" e o mais recente John Dillinger, do novo filme de Michael Mann, "Inimigos Públicos".

Na produção baseada na história real de um mítico assaltante norte-americano, que varreu os bancos na época da Grande Depressão e acabou se tornando o estopim para a criação do FBI, Depp magnetiza com uma segurança única. A companhia da grande Marion Cotillard - que entregou uma das melhores performances deste novo século em "Piaf - Um Hino ao Amor" - e o pouco convicente antagonista vivido por Christian Bale, colaboraram ainda mais para Depp brilhar intensamente. Quando juntos em cena, Depp e Cotillard exalam paixão, numa química que é um dos grandes trunfos do filme. Se não é exatamente brilhante, "Inimigos Públicos" está acima da média. Cresce muito devido ao casal protagonista, mas exibe uma gordurinha de pelo menos 20 minutos na duração. Continua, mesmo assim, merecendo uma indicação aos cinéfilos de plantão, confirmando uma questão já notória: com raras exceções, Johnny Depp se mantém como chamariz para interessantes experiências cinematográficas.

sexta-feira, 7 de agosto de 2009

O fim do fumo passivo


Entrou em vigor ontem, em São Paulo, a lei Antifumo, que já gera muita discussão há meses. Em Salvador, a lei já existe e está sendo seguida à risca. A ideia de multar o proprietário do estabelecimento, se algum cliente infrigir a lei, é polêmica, mas foi a melhor saída para fazer com que a lei pegue. Aquela velha história: lei no Brasil tem que pegar, caso contrário vira apenas protocolo bobo.

Na primeira noite, já senti literalmente na pele os benefícios da nova ordem. Curtir uma festa num local fechado deixou de ser um suplício para quem não fuma. Os olhos já não ardem, o ambiente fica mais claro sem a fumaça maléfica e a roupa já não cheira a cinzeiro depois da noitada. Isso sem contar que não precisamos fumar mais passivamente um maço inteiro de Marlboro; meus pobres pulmões agradecem. Nesta primeira experiência, pude constatar também que os estabelecimentos ainda estão um pouco confusos quanto ao que podem oferecer aos fumantes inveterados. Alguns locais estão montando esquema de recolha dos maços, para que o usuário retire com uma senha se quiser fumar na rua; outros estão oferecendo fumódromos ao ar livre, mas com muros que confinam o local - algo que seria ilegal, segundo a lei. O resultado é mais uma fila para incomodar e mais um motivo para briga entre cliente e estabelecimento. Frente ao benefício aos que não fumam, entretanto, esse incômodo é café pequeno e reversível.

O grande problema da Lei Antifumo é o mesmo da Lei Seca: o seu modelo radical. Se a lei que não combina bebida e direção coloca índices de alcolemia baixos demais, tornando arriscado até mesmo duas taças de vinho num jantar inofensivo, a lei do cigarro destrói espaços que poderiam funcionar muito bem: os fumódromos. Reservar - de modo opcional, cabe a cada estabelecimento - um local para os fumantes curtirem seu vício poderia facilitar a vida de todos. Mas por aqui as coisas são assim mesmo, se a lei for permissiva demais, ninguém obedece. Resta saber se a Lei Antifumo vai mesmo emplacar. Minha aposta é que sim, afinal os não-fumantes estão de olho...

segunda-feira, 3 de agosto de 2009

Tempo de educar


Um livro leve e que prende a atenção do leitor sem grandes arroubos narrativos. Esse é "O Clube do Filme" (Editora Intrínseca, R$24,90, 240 páginas), escrito por David Gilmour, crítico de cinema desempregado que vive de bicos no Canadá. Com um filho adolescente em casa, ele toma uma decisão no mínimo inusitada para um tormento que aflinge muitas famílias. Ao perceber que o garoto Jesse está completamente desmotivado com a escola, David propõe que ele simplesmente largue os estudos. Isso mesmo, abandone, e sem a obrigação de arrumar um emprego para preencher o tempo ocioso. Como era de se esperar, essa proposta acaba por atormentar o pai depois de um tempo, preocupado em não coloborar para arruinar a vida do garoto. É quando surge uma idéia original que cai como uma luva para os dois protagonistas dessa história: David sugere a Jesse que eles assistam dois filmes por semana, acompanhados por uma rápida introdução feita pelo pai e uma discussão posterior sobre a história ou algum artifício técnico. Lidando com a educação de um modo despretensioso, David acaba conseguindo aos poucos prender a atenção do rapaz e ainda provoca uma aproximação forte entre os dois.

Baseado na sua real história de vida, David acaba por cometer um pequeno, porém agradável, livro. A escrita dele pode por vezes parecer simples demais, mas é carregando na análise da sua relação com seu filho que ele acerta em cheio. Se as informações sobre os filmes que eles assistem - numa lista que vai de clássicos como "Ladrões de Bicicleta" até bombas como "Showgirls", passando por grandes filmes da Nouvelle Vague e obras importantes de cineastas como Woody Allen e Quentin Tarantino - são bem interessantes e dão um tempero a mais para os amantes da arte cinematográfica, são os conflitos de um aborrecente que mora sozinho com o pai que provocam as melhores reflexões. As desventuras amorosas de Jesse, seu envolvimento com drogas e a relação civilizada que David mantém com sua ex-mulher são como intervalos dos mais interessantes entre uma sessão de filme e outra. Mesmo sabendo que aquele pequeno cineclube não vai durar para sempre, David curte cada minuto de sua educação pouco ortodoxa e não esconde a melancolia de um pai que vê seu filho crescendo e se tornando independente. Algo inevitável, mas sempre muito sofrido para quem zela pelos seus.

Em tempo: o autor David Gilmour é apenas homônimo ao ex-vocalista e guitarrista do Pink Floyd. A foto acima não deixa dúvidas...

sábado, 1 de agosto de 2009

Espelho de uma realidade


Essa semana revi, pela quarta vez, "Cidade Baixa", filme do baiano Sérgio Machado. Sempre gostei de rever filmes, já cheguei a assistir três vezes a mesma produção no cinema. Naturalmente, isso já levantou suspeitas quanto à minha sanidade. Para mim, assistir a um filme com pessoas diferentes é sempre uma experiência nova. Fora a questão de que, a cada projeção, vemos uma peça transformada, com novas nuances e detalhes antes imperceptíveis.

No caso de "Cidade Baixa", a experiência é ainda mais prazerosa. O triângulo amoroso formado por três atores em estado de graça - Wagner Moura, Lázaro Ramos e Alice Braga - carrega muito significado e traz embutido uma Bahia verdadeira. Na cinematografia recente, nenhum outro filme reproduziu Salvador com tanta verdade, no seu linguajar urbano e nos seus becos e ruelas carregados de muita sacanagem. Se o vocabulário utilizado traduz o Dicionário Baianês com fidelidade, é no que não é dito que o filme se aproxima da excelência. Os olhares trocados, os gestos cheios de significado, o amor e o ódio que une e aparta os amigos Deco (Lázaro) e Naldinho (Wagner). Tudo confluindo para um final silencioso e aberto às mais diversas interpretações. Se você já viu esse pequeno grande filme, reveja. Se não viu, tire o atraso.