segunda-feira, 13 de junho de 2011

Energia não tem idade



Não vou mentir que, mesmo com todas as adversidades, eu curti o show de Amy Winehouse, em janeiro passado. Mas foi só assistir ao vulcão Sharon Jones e sua banda The Dap Kings, no último sábado, durante o BMW Jazz Festival, para eu avaliar o show de Amy com um olhar mais crítico. A comparação entre as duas divas do soul tem seus motivos. Foi a própria Amy que colocou os holofotes em cima de Sharon Jones, quando convocou a banda de apoio dela para gravar o disco "Back to Black". A jovem inglesa ficou tão fascinada que se inspirou declaradamente na sonoridade deles para elaborar seu disco de maior sucesso.

Ao ver as duas cantoras no palco, num intervalo de menos de seis meses, definitivamente fico com a menos famosa. Carregando 55 anos nas costas, Sharon Jones cantou como se fosse a última vez, dançou, urrou e fez o público sisudo do Auditório Ibirapuera se levantar para balançar junto com ela. No contraponto, a inglesinha Amy pouco se movimentou no palco, cambaleou um tanto e fez apenas o básico - o que já é bem bom, afinal o vozeirão dela não deixa a peteca cair. Mas não encantou, não impressionou e deixou um gostinho levemente amargo na boca do público.

Já o gosto que deixou Sharon Jones na boca de seus fãs foi de quero mais. Foram duas horas de um show intenso e divertido, da mais alta qualidade. Soul music de raiz, com pitadas do funk de James Brown e da boa música africana. Dava orgulho ver no palco uma cantora dando tudo de si, fazendo valer cada minuto dispensado pelo público. A interação com a platéia era constante e do alto dos seus (se muitos) 1,50m de altura, Sharon parecia uma gigante. E que voz!

Mesmo injusto por muito tempo, o mundo dá suas voltas e compensa mesmo que tardiamente. Esnobada quando jovem por ser negra, baixinha e feia, Sharon Jones só estreou como cantora aos 40 anos de idade. Antes disso, continuou emprestando sua garra a outros ofícios, como o de carcereira. Ao abraçar a música, realizou seu sonho e caminhou lentamente para o estrelato. Foram dois discos menos conhecidos e um terceiro que se aproveitou da fama alcançada pelos Dap Kings após a gravação deles com Amy. "100 Days, 100 Nights" levou Sharon Jones & The Dap Kings ao posto de sensação do soul, posição confirmada pelo também ótimo "I Learned The Hard Way". Agora, no auge tardio de sua carreira, esta talentosa norte-americana mostra que tem gás para muitos anos, amparada por seus fiéis escudeiros. Afinal, não é qualquer uma que faz quatro shows na sequência (sábado e domingo em São Paulo, hoje em Salvador e amanhã no Rio de Janeiro) e nem parece cansar.

sábado, 4 de junho de 2011

A volta dos mutantes



Não há história em quadrinhos (de super-herói) com a profundidade do X-Men. Quando se imaginava que a série estava desgastada no cinema, após um terceiro filme inferior e um pouco elogiado capÍtulo dedicado a Wolverine, o estúdio Fox reinventou a saga em grande estilo. Para isso, convocou o diretor dos dois primeiros e excelentes X-Men, Bryan Singer, para colaborar com o roteiro. E contratou o não tão experiente diretor Matthew Vaughn para dar frescor a um filme que narra como surgiu o grupo dos mutantes, "X-Men: Primeira Classe".

E tudo funciona perfeitamente bem, perigando ser esse o melhor exemplar destes fantásticos heróis da Marvel. Costurando o enredo fictício com momentos dramáticos da História mundial, como a 2a Guerra Mundial e a Crise dos Mísseis de Cuba, o filme é inventivo e divertido. Como é comum quando se trata do grupo mais atormentado dos quadrinhos, é discutido, com relativa profundidade, temas como preconceito, raiva e vingança. É possível substituir os mutantes por qualquer grupo que sofre preconceito, como os negros, os judeus, os gays. A essência é a mesma e a intolerância salta latente aos olhos.

Neste primeiro filme de uma possível nova trilogia, entendemos o que motivou Magneto a se tornar um violento combatente dos humanos; percebemos como surgiu a amizade entre Magneto e Professor Xavier - e como ela ficou abalada; observamos a criação dos X-Men e a relação do grupo com a CIA; e vemos alguns dos mutantes no início da trajetória, aprendendo a controlar seus poderes. Nem sempre com extrema fidelidade às HQs, mas sempre com muita coerência com o próprio filme. Não há pontas soltas. Para os fanáticos por ação, esse é um filme mais pautado pelos diálogos e roteiros, mas ainda assim há cenas eletrizantes. O elenco jovem dá o gás que a série pedia, com destaque para James McAvoy, Michael Fassbender e Jennifer Lawrence.

Em "X-Men: Primeira Classe" fica ainda mais claro que a linha que separa os heróis dos vilões é muito tênue. Como não entender as motivações de Magneto? Serão mesmo tão menos nobres que o discurso pacifista de Xavier? Como Malcom X e Martin Luther King, eles duelam com as armas que lhe cabem, sempre em busca da aceitação pela sociedade. Darão pano para manga para mais capítulos. E que venham, pois, as próximas etapas dessa história atemporal.