Caetano Veloso envelhece bem, como poucos. Chico Buarque praticamente abandonou a música, tornou-se um compositor bissexto que hoje responde mais ao chamado de escritor. Ainda assim, quando lança um disco, parece preguiçoso e desmotivado. Gilberto Gil ainda tem gás para queimar, especialmente depois que largou a política, mas a voz já não é a mesma e os covers parecem que caíram de vez nas graças desse baiano. Bom, conta contra ele também o fato de ser o pai de Preta. Simplesmente, não dá...
Como bom amante do indie rock que sou, fiquei vidrado com a nova fase de Caê. A banda é redonda e as duas últimas turnês, de "Cê" e "Zii e Zie" (essa última ainda no início), ficam marcadas com shows intensos, que cheiram a sangue, suor e sexo. É rock ou não é? Pouco importa. Se o novo disco "Zii e Zie" é inferior ao seu irmão mais velho "Cê", ao menos o show manteve o patamar de excelência. Repertório pouco óbvio, versões viscerais de antigos clássicos e um Caetano com vontade imensa de cantar.
Simbólica é a interpretação de "Eu sou neguinha", quando Caetano solta a franga, sem medo de mostrar que é de uma geração que não prioriza nem o preto, nem o branco, mas sim o cinza. Deixando os meninos Pedro Sá, Marcelo Callado e Ricardo Dias Gomes solarem, ele demonstra que os anos que carrega nas costas o deixaram mais generoso. Uma coisa é certa: a separação da chata Paula Lavigne fez um bem danado a esse grisalho santamarense.
Em tempo: nos cinemas, vale a pena conferir o documentário "Coração Vagabundo", gravado em meio a turnê de "A Foreign Sound".
Um comentário:
Canta Caetano!
Recita-me esse sexo vertiginoso e heterodoxo
Teu cantar é um ensaio à sobriedade
Com esse teu ritmo ou chuva que perfumam minhas noites
Ah, Caetano! Ainda há um pouco de você amarrado na minha dúvida.
Poeta que pega paixões e olhares e emoldura na palavra
Que canta emoções nuas, tuas e cruas
Às vezes canto a ti
Mudo as suas palavras para que me façam servir, as faço minhas
Mesmo que me provoque e me desconforte
Ainda coloca dentro dos meus olhos, o céu
Suas palavras, ah, Caetano!
Fazem a minha cama
Derramando doses picantes de delícias
Nessa canção que me beija e depois me deixa
Tento então viver de acordo com os pecados que tu me ditas
Mas, ainda assim, me deito sob o vento, no meu projeto de arco-íris
Com o silêncio que me sacia essa fome de melodia
Delícia de Caetano!
Essas são apenas memórias
Memórias para dividir na cama
Poeta! Os trajes pretéritos da minha razão já não me cabem
A cada verso teu, meu desejo recrudesce
Entorpece
Adormece
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