sexta-feira, 30 de março de 2012

Sucesso tardio



Quanto tempo demora para uma banda estourar de fato? No imediatismo atual, algo como um single? Ou chega à "eternidade" de um ou dois discos? No caso do Black Keys, foram necessários nada menos que sete discos para a banda se tornar headliner de festivais e empreender uma grande turnê. O álbum responsável pela façanha é "El Camino", sucessor dos também espetaculares "Attack & Release" e "Brothers". O que surpreende: é fato que o grupo vem numa crescente de fama, disco após disco. Mas não há dúvida que o sucesso mais abrangente demorou mais do que o normal.

Na minha opinião, o Black Keys está entre as três melhores bandas da atualidade. Quando se avalia a regularidade e a qualidade dos trabalhos de estúdio e dos shows mais recentes, ela passa a ocupar o primeiro lugar, possivelmente. Não é à toa que vem varrendo os Estados Unidos numa turnê cuja banda de abertura (isso mesmo, abertura) é ninguém menos que o Arctic Monkeys.

Formado por um duo de guitarra e bateria, o que torna inevitável a comparação com o White Stripes, o Black Keys não traz nada de muito inovador no quesito sonoridade. Faz um blues-rock rápido, por vezes dançante, recheado de boas referências. As músicas são maduras, muito bem tocadas e formam discos que são vibrantes de cabo a rabo. Os caras também deixam como marca os interessantes videoclipes, como é o caso de "Tighten Up" e "Lonely Boy". Um grupo excitante, que está demorando demais para vir ao Brasil. Ao lado do Arcade Fire, é o grupo que mais quero ver, hoje.

terça-feira, 20 de março de 2012

Saborosa exceção


Nas minhas andanças gastronômicas por São Paulo, sempre tentei variar o máximo possível, para quem sabe diminuir a gigantesca lista de restaurantes que quero conhecer. Lista que aumenta em uma razão geométrica e que tenho dificuldade de cumprir, afinal um regime se tornou mandatório para mim nos dias de semana. Fim de semana, porque não sou de ferro, estou liberado para algumas aventuras, mas existem várias outras coisas para fazer que disputam espaço na agenda.

Seguindo a clássica exceção à regra, surgiu o Epice, que fica nos Jardins. Ele virou o restaurante que quero sempre voltar, como já fiz quatro vezes. O local é sóbrio, o serviço impecável e a comida deliciosa. O cardápio enxuto só aumenta meu anseio por voltar e conhecer todos os pratos. Poucas coisas me dão mais prazer do que um belo prato de comida, ainda mais quando preparado com esmero por um chef com cabeça inventiva e tendo às mãos os melhores ingredientes. Essa confiança no preparo dos pratos é um incentivo para escolher um diferente a cada vez. A fidelidade ao restaurante deve só aumentar, pois soube que eles estão estudando a adoção de um menu degustação.

Só não consigo variar mesmo na sobremesa: uma tarte tatin dos deuses que quebrou dois paradigmas para mim. O primeiro era que torta de maçã não entrava nunca na lista de sobremesas possíveis. O segundo que sobremesas não são essenciais para uma refeição completa. Costumo passar numa boa sem elas, mas sem a tarte tatin do Epice ainda não consegui. Um restaurante que conseguiu me deixar plenamente satisfeito em todas as vezes que fui. Por isso, mesmo sabendo que não é considerado o melhor de São Paulo, o Epice é hoje o meu favorito.

* Na foto, a sensacional barriga de porco do Epice.

domingo, 11 de março de 2012

Um novo porto seguro



Pela primeira vez, mudei de apartamento em São Paulo. Inicialmente, pensei em ficar no mesmo bairro, quem sabe até na mesma rua. Gostei muito de morar em Pinheiros e achei que ali poderia criar raízes. Só que o acaso me colocou em um outro bairro vizinho, a Pompéia. O novo destino inesperado acabou me lembrando que gosto mesmo é de novidade. A mudança não teria sido completa se só tivesse trocado de quarteirão. Precisava de um novo bairro para descobrir novos caminhos, uma padoca para chamar de minha, um supermercado (na realidade, acabaram sendo dois) que me desse o prazer de me perder no meio das gôndolas e uma infinidade de bares, botecos e restaurantes que antes não estavam na minha lista de prioridades.

Já que isso veio acompanhando por um apartamento que me apaixonei de cara e um condomínio com todo conforto almejado, não há o que reclamar. Perto da mudança, lembro que fiz uma lista mental de coisas que não poderia faltar: tinha que ser em um andar alto, ter bela vista (ainda que dificilmente para bater a vista que já tinha em Pinheiros), uma varanda convidativa, cozinha americana, dois quartos, dois banheiros, uma academia de musculação para que toda semana eu prometesse voltar a malhar, uma piscina que eu pelo menos olhasse e imaginasse que usaria muito. Eis que consegui tudo isso e nem precisei procurar muito. Caiu no colo. Agora a vontade é de receber todos os amigos e parentes, compartilhando essa felicidade. Curtir o novo apê até que nova mudança se faça necessária, assim posso redescobrir tudo de novo. Coisas que só uma cidade do tamanho de SP pode oferecer: pequenos núcleos autossuficientes e prontos para serem explorados.

sábado, 3 de março de 2012

Fim do primeiro ciclo


Minha cunhada costuma dizer que todas as pessoas inteligentes deveriam fazer análise. Sem querer parecer pedante, foi isso que incentivou a minha entrada no universo da psicanálise. O primeiro profissional que visitou gerou um desconforto que quase me fez abandonar a idéia. O grau de empatia foi zero e em 20 minutos de sessão, minha vontade era sair e não voltar mais. Eu me perguntava: por que diabos fazer isso? Não poderia frequentar um consultório em que a pessoa na minha frente não gera qualquer tipo de afinidade. Ainda bem que tentei novamente, pois assim pude perceber que a química com o profissional, seja ele psicanalista, psicólogo ou psiquiatra, é o que faz a experiência vingar.

Estou perto de completar 1 ano de terapia e lembro que em uma das primeiras sessões, a analista me disse que eu não tinha nada muito grave para resolver, que estava muito bem resolvido e feliz. Ressaltou, entretanto, que as análises sempre ajudam a amenizar a rotina de cada um. É algo que parece encaixar muito bem com a frase da minha cunhada que abre este texto. Olhando em retrospecto, vi que hoje estou melhor no trabalho, nas relações interpessoais e com mais paz interior. Sem perceber, mergulhei nos meus sentimentos, sem muito drama, e hoje me conheço melhor.

Agora, mesmo em dúvida, resolvi fazer um intervalo por tempo indeterminado. Quero ver como me saio sem ter uma pessoa desconhecida (ao menos fora daquele ambiente da terapia) para escutar meus medos e preocupações. Será que realmente ja me conheço melhor? Será que vou sentir falta? Vai demorar um tanto para perceber, mas não há dúvida que esse parece um bom momento para fechar um ciclo. Encostar a porta, não trancá-la, e deixar ali, pronta para ser reaberta no futuro.