sábado, 10 de outubro de 2009

Doces veraneios



Durante cerca de 10 anos de minha vida, eu não soube o que significava veranear em Salvador. Como numa eterna colônia de férias, Praia do Forte se tornou o lar dos meus verões, dos 9 aos 19 anos de idade. Lembro que era convidado a passar temporadas em Vilas do Atlântico e na Ilha de Itaparica e, quando cedia, logo me arrependia e contava os dias para voltar para a então bucólica Praia do Forte. Foi nesse pequeno reduto, ainda uma Vila de Pescadores, que pela primeira vez senti uma sensação de liberdade e independência. As ruas de barro da Vila, recheadas ainda com poucos turistas e muitos nativos, eram seguras e conhecidas por nós em todas as suas nuances. A praia, com uma inclinacão peculiar na areia, oferecia um mar calmo, tanto nas pocinhas em frente ao apart onde me hospedava (Garcia D'Ávila) quanto no Papa Gente, passando ainda pelo trecho mais profundo em frente ao famoso Eco Resort. Hotel este, por sinal, que foi invadido seguidas vezes por um bando de crianças ávidas por suas piscinas imensas e sua recreação gratuita. Cansei de correr de seguranças, quando nossa tática de nos dividir em grupos e atacar em várias frentes não dava certo. Os rostos já marcados pelos guardinhas que mantinham a posição na frente do Resort buscavam mesmo era um pouco de emoção, quase sempre recompensada com um gostoso banho de piscina.

Esse bando de crianças a que me referi, inclusive, foi responsável por alguns dos momentos mais divertidos da minha infância. Logo no primeiro janeiro por lá, eu e meus tios e primas que me convidavam para Praia do Forte conhecemos duas famílias de São Paulo e duas de Brasília, que logo se tornaram amigas. Os adultos estreitaram laços e as crianças não se desgrudavam. Se alguns, como os companheiros de Brasília, só voltaram por mais quatro anos para a nossa solar terra prometida, outros, como os paulistas, bateram ponto conosco durante toda a década. Matávamos as saudades uns dos outros trocando cartas (sim, elas ainda existiam!) e esperando ansiosamente por mais um veraneio. Até hoje tenho essas pessoas como referências em minha vida. Umas não vejo há anos, outras estão ainda bem próximas.

As lembranças são muitas do Litoral Norte e, nos anos seguintes que voltei, já sem a garantia do Verão e sem meus amigos de outros Estados, consegui reviver os bons momentos sem grande nostalgia, mas com uma sensação de ter aproveitado cada minuto que passei ali. O delicioso bolinho de peixe do Souza (que bati o recorde de 100 unidades comidas em um verão); os caretas que já começavam a nos assustar no final de janeiro; as tartarugas do Projeto Tamar; a torta de limão do Tango Café; o divertido banana boat (e o fatídico dia que os adultos experimentaram e - apavorados após um pequeno acidente - resolveram nos proibir de utilizá-lo); as trilhas matutinas rumo a Reserva de Sapiranga e suas corredeiras; as puladas noturnas de cerca entre os aparts vizinhos Garcia D'Ávila e o Solar dos Arcos; a moqueca de Maura à beira-mar; as longas caminhadas rumo ao Rio Pojuca; o pôr-do-sol inesquecível frente ao histórico Castelo Garcia D'Ávila; as sessões de música baiana e crepes no Solar dos Arcos; os mergulhos silenciosos no Papa Gente e na Piscina do Lord; os sariguês caçados nos corredores do apart-hotel; as conversas à luz da lua na piscina; as intermináveis partidas de War e outras jogatinas como Rapidinho e Imagem & Ação; as eternas brigas com as primas na hora de lavar, enxugar e guardar a louça do nosso saudoso apartamenteo A4; os surreais shows do Asa de Águia e Fernanda Abreu em um lugar ermo e escuro; as despedidas chorosas no início de fevereiro. Foram momentos fantásticos que devo aos que me proporcionaram a chance de curtir esses inesquecíveis dias de Verão. Obrigado.

6 comentários:

Anônimo disse...

Leo querido,
Fiquei hje de manha muito emocionado ao ler as suas impressões da Praia do Forte.
Pode ter certeza que foi uma alegria enorme poder conviver estes anos todos dos nossos verões.
Aprendemos muito com todos vcês e nossas vidas ficaram mais ricas com todas as experiências vividas.
Bjos, seu tio Peter

Chris Ude disse...

Meu querido Leco,
Que sorte a nossa ter vivido tudo aquilo... engraçado que fecho os olhos e posso sentir muitos daqueles momentos como se tivessem acabado de acontecer. Nós crescemos ali. E na verdade aquilo tudo vive ainda, nas pessoas que nos tornamos, nas famílias que ganhamos, nos amigos eternos, nos banhos de mar e no Pojuca que, apesar de para mim também não serem vistos com nostalgia, certemente transmitem uma energia para nós que nem todos sentem... Muitos beijos, Chris

Anônimo disse...

Leo querido, é uma delicia poder compartilhar esses momentos especiais e inesquecíveis na tão amada Praia do Forte. Confesso que ficava com ciume dos tios que me roubavam vc. durante o verão rs... rs... só tenho a agradecer a Peter e Joca por lhe proporcionar essas lembranças. mommy

Ninha Burity disse...

Leo!!!
Concordo plenamente com você!!! E eu que não passava todo o veraneio lá!??! Ficava ainda dividida e com o tempo reduzidíssimo!! Aliás, falando dos bolinhos do Souza, devíamos ter desconto hoje lá, pelo tempo de consumo!! Você, hein, deu uma omitida básica no dia da "troca da guarda"... rsss esse fica na memória apenas dos participantes do veraneio...(será que vocês vão associar o termo ao fato?), e não falou das festas de axé na beira da piscina... Pois é, Leco, tenho a mesma impressão sua, chorei horrores lendo, concordando com cada fato, mas muito feliz por participar e sentir o mesmo!!! Pena daqueles que só tem a Praia do Forte como mais um ponto turístico, mais uma praia do Litoral Norte, ao invés de tê-la como uma segunda casa! Obrigada à Joca e tio Peter por ter nos proporcionado esses momentos maravilhosos e inesquecíveis!!!
Bjão e saudades!!!
Ninha

Anônimo disse...

Leleco querido, que bom que voce faz parte dos nostalgicos , recordar é viver...........veraneio sempre é motivo de boas recordações , as nossas são incomensuráveis , no casamento de Kri revivemos a alegria de estarmos juntos parece que o tempo não passou a intimidade e cumplicidade com nossos amigos é a mesma Beijos meu querido sobrinho .Joca

Anônimo disse...

Amei...lindo texto! Como irmã pude acompanhar esses momentos e imagino que devem ser realmente inesqueciveis!!