quinta-feira, 17 de setembro de 2009

Reencontro com a paz


A comparação de um salutar envelhecimento humano com um bom vinho cabe perfeitamente ao caso do grande Clint Eastwood. Na medida em que os anos passam, o veterano diretor, ator e produtor se supera, entregando filmes sensíveis e inventivos, numa regularidade invejável. Arrancando performances acima da média dos seus atores, como Hilary Swank e Morgan Freeman em "Menina de Ouro" e Sean Penn e Tim Robbins em "Sobre Meninos e Lobos" - somente para ficar nos recém-oscarizados -, Clint demonstra como hoje domina completamente o seu ofício. Filme novo deste americano de San Francisco é sinônimo de potencial indicado ao Oscar, garantem as bolsas de apostas.

De vez em quando, ele próprio se coloca à frente das câmeras, como em "Gran Torino". Revi pela terceira vez essa pequena obra-prima recentemente e mais uma vez me emocionei com a história do homem duro e pouco social, que não esquece as agruras da guerra em que lutou e guarda os mais terríveis preconceitos. Entretanto, por debaixo daquela camada aparentemente intransponível, existe um homem bom e justo. Mesmo que oculte na primeira metade do filme, é na sua interpretação contida que Clint dá a entender que há algo de humano ali. Com falas cortantes, de um humor ferino, porém refinado, o personagem Walt Kowalski conquista a improvável simpatia do espectador. Mérito de Clint, que injustamente não figurou entre os indicados ao Oscar de Melhor Ator de 2008.

Último remanescente da maioria em um bairro povoado pelas mais marginais minoriais, Kowalski resiste ao presente e ao futuro, se mantendo preso a um passado obscuro. Isso fica evidente desde o recorrente discurso sobre a Guerra da Coréia, que aparentemente o traumatizou, até a residência onde vive e que dividiu por anos com sua esposa recém-falecida, passando também pelo carrão antigo que dá nome ao filme. É na suas relação com a família de asiáticos que mora ao lado, especialmente com o garoto Thao, que o personagem de Eastwood vai reencontrar o seu quinhão humano que ficou perdido em algum chão da distante Coréia. Se já não reconhece entre seus fúteis filhos e netos a possibilidade da redenção, é na desprezada família de olhos puxados que está a saída. Uma lição para um senhor que já viu muitas coisas nos seus mais de 70 anos de vida, mas que ainda precisava de paz interior.

6 comentários:

Paulo Sales disse...

Grande Léozão,
Gosto muito de Eastwood e esse é um filme bonito, mas confesso que me decepcionou um pouco. Em alguns momentos me pareceu pouco autêntico e até um tanto ingênuo, mas a razão para essa decepção é mesmo subjetiva, não saberia explicar com clareza. O final, porém, com Thao andando com o carro naquela avenida, é lindo. Acho que ele foi mais bem-sucedido em Cartas de Iwo Jima, As Pontes de Madison e Menina de Ouro, que para mim continuam sendo seus grandes filmes.
abração.

Leo Maia disse...

Fala PSales! Concordo com você que esses três filmes citados são superiores! Mas, por algum motivo que também não sei explicar, Gran Torino me toca de uma maneira especial. Mudando de assunto, passei seu texto sobre o patriotismo para várias pessoas, ficou excepcional!

Karolina Gutiez disse...

Fazia tempo que eu não entrava no seu blog. Adorei todos os posts recentes, principalmente os das viagens. Você já pode fazer um guia! Beijo, Karol

Anônimo disse...

Concordo que foi um dos mais importante filme deste grande ator,
ë sensível e ao mesmo tempo duro o personagem principal.
Concordo com genero numero e grau !

Anônimo disse...

Leo,

Você já assistiu A Partida (Okuribito)?
Eu tenho curiosidade de saber sua opinião acerca do filme. Fico procurando palavras para descrever como minhas emoções e sentidos ficaram à flor da pele.
É muito lindo, Leo!

Bj,
Mari

Leo Maia disse...

Oi Mari!

Assisti sim e fiquei também bastante tocado pelo filme. Prometo um post com minhas impressões para logo! Se eu não me engano, assisti em julho, o que pode comprometer um pouco minhas lembranças. Beijo!