quarta-feira, 6 de abril de 2011

Os vários estágios do rock


Quem lê esse blog com certa assiduidade, já entendeu que eu sou viciado em shows. Assim como 2010, 2011 caminha em passos largos para ser preenchido com pelo menos três dezenas de shows internacionais para o currículo. São Paulo ferve e a cada semana alguma atração gringa bate por aqui. Já me arrependi de ter perdido alguns dos shows, com maior destaque para Ozzy Osbourne. Dormi no ponto, perdi a chance. Já tive a oportunidade de assistir esse ano a shows de artistas nos mais diversos estágios de carreira. Primeiro foi Amy Winehouse, que ainda não conseguiu sair do inferno astral, lambe os beiços da decadência, mas ainda oferece lampejos de genialidade. Na mesma noite, Mayer Hawthorne, sem qualquer obrigação de estrela, fez show leve e divertido. No meio das duas atrações, a jovem Janelle Monáe se desdobrou no palco para agradar a todos. Mas como estreante ansiosa, foi muito boa em alguns momentos e meio "over" em outros. A impressão clara é que após lançar o segundo disco, ela poderá equilibrar com mais clareza o seu repertório. Talento, ela tem de sobra.

Há os shows que surpreendem. Nesse quesito, esse ano, quem brilhou foi Kate Nash. Ganhar ingresso para show já lhe deixa com a maior boa vontade em relação ao artista, mas Kate foi além. Deu nova vida às suas já ótimas músicas, colocando sujeira nos arranjos e portando-se como uma rock star. Em alguns momentos, tive a nítica sensação de estar assistindo ao Breeders ou Sonic Youth. Grata surpresa. Infelizmente, também existem os shows de despedida. E algumas despedidas acontecem no auge da carreira, como foi o caso do LCD Soundsystem. Com a casa lotada, James Murphy e sua trupe mostraram porque sempre estão na lista dos mais criativos da música atual. Rock com generosas pinceladas de eletrônica, numa música que não lhe deixa parado e tem mensagem relevante. Mas antes que a banda começasse a se repetir, eles resolveram encerrar as atividades. Bom, pelo menos passaram no Brasil antes disso!

Nos últimos sete dias, pude assistir a dois shows de bandas praticamente opostas, pelo menos quando analisamos o momento da carreira. Primeiro foi o The Drums, com seus garotões no palco e sua música urgente e imperfeita. Jovens, ainda inexperientes e com apenas um disco nas costas, fizeram um show vibrante, acompanhados pelo público também jovem e cheio de estilo. O som igualmente imperfeito do Estúdio Emme prejudicou um pouco a performance, mas só colaborou para a sensação de estar assistindo a uma banda no seu desabrochar. O lugar pequeno e apertado fechavam o cenário. Era como estar numa pequena casa de show norte-americana, vendo a estréia de uma futura (quem sabe?) grande banda do rock. Exatos cinco dias depois, o clima era outro. Um público mais velho e menos afeito às tendências da moda, assitiu ao rock adulto do The National (foto). Plenamente cientes da qualidade da sua música, os americanos fizeram um show maduro, carregando na bagagem os bem mais pesados (e complexos) cinco discos. E não se engane: não é rock cabeça ou chato. É rock direto, sem firulas, com alguma melancolia e instrumentistas da melhor qualidade, que nem por isso exageram nos arroubos virtuosos. O público teoricamente mais quadradinho, se entregou de bandeja para a banda, numa troca de energia que dá sentido a qualquer show de rock. Para prosseguir nessa maratona musical, já aguardo ansioso o próximo sábado (09/04). Vem aí U2, junto a luxuosa companhia do Muse. E olhe que ainda estamos em abril...

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