quarta-feira, 9 de fevereiro de 2011

Casarão de memórias


Morar fora da cidade natal, faz com que a pessoa precise se desgarrar mais das coisas materiais e não deixar a melancolia bater. Sei que isso vale para todos, em maior ou menor intensidade, mas creio que morando longe de casa, soma-se a isso a sensação de impotência. Por todos os anos de minha infância e adolescência, Portão foi a minha referência de refúgio, de casa para curtir a família e de festas inesquecíveis. Sinônimo de lazer, junto com a Praia do Forte (que jé foi motivo de post por aqui). Agora o sítio (antes fazenda) está com os dias contados. Acabando o mês de março, não pertence mais a Família Bala. A quantidade exorbitante de condomínios que surgiram na região tiraram a paz de Portão, local que íamos para descansar ou para celebrar sem correr riscos. Virou cidade, acabou a privacidade e até mesmo a segurança. A modernidade chegou; não houve escolha. Assim vai embora uma das minhas últimas referências palpáveis da infância. Um dos últimos locais onde podia ir e lembrar de situações da minha mais tenra idade. Cada pequeno espaço daquela casa centenária é recordação de um momento. Ali cresci e aprendi a valorizar o que há de mais importante na vida: a família.

Casa agregadora, com nove grandes quartos, próxima de Salvador, Portão era a sede de uma fazenda que eu não conheci. Não há dúvida que marcou todos os Balas, além de muitos dos amigos que ali estiveram. Casa que viu muitos casamentos (de tios queridos, primos e meu irmão), minha formatura, despedidas e boas-vindas dos meus intercâmbios, inúmeros aniversários, festas de São João e uma festa aberta ao público que deixou marca na história de Salvador. Sem exagero. A Festinha em Quadrinhos durou uma década, reuniu até 2 mil pessoas por noite e ainda hoje é lembrada. Para mim, era ainda mais especial, pois lá chegava bem antes da festa oficial começar e só ia embora muitas horas depois, tendo o privilégio de dormir no casarão.

Mas morando em outra cidade, tenho mesmo é que me conformar. Afinal, nas minhas idas a Salvador, o tempo é curto e as idas a Portão se tornaram praticamente impraticáveis. Acabariam se tornando esporádicas, de qualquer modo. Porém seria bom saber que Portão está logo ali, não? Vão restar as lembranças boas. A saudade dos parentes que se foram e que aproveitaram longas temporadas no casarão; os lautos almoços precedidos por intermináveis tira-gostos e sucedidos pela soneca de muitos; os empilhados engradados de cerveja, que marcaram minha entrada no mundo etílico; as dormidas nos quartos das crianças; os longos banhos de piscina; a sala de televisão recheada de conversas e mais alguns cochilos. Fica tudo isso guardado na memória e registrado em inúmeras fotos que certamente verão algumas lágrimas caírem.

5 comentários:

Chihiro disse...

Léo! Que pena que a "modernidade" chegou a Portão... Lembro de ter ido lá em um daqueles churrascos épicos da Facom hehe. Enfim, como vc mesmo falou, a vida continua e as lembranças permanecerão. Beijos!

Anônimo disse...

Leo, vamos agora nós, desta nova geração dos Bala, nos encarregar de criar lembranças, lugares memoráveis e especias para ficarem na lembrança dos q estão chegando nesta família q ainda será Bala por muito tempo! PB

Leo Maia disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Flávia disse...

É impossivel nao sofrer. Estou abaladissima com isso....
Temos que criar urgente uma forma de mantermos os encontros dos Balas permanentes.
Amei seu texto irmao...como sempre!
Bjs

Anônimo disse...

Tenho sonhado todas as noites com Portão, parece que é o meu inconsciente se manifestando, tenho colocado esta perda bem longe dos meus pensamentos, fazendo de conta que vamos passar a página, mas é difícil faze-lo sem sofrer.... Celia