sábado, 5 de junho de 2010

Buscas incessantes



Alguns filmes têm o poder de lhe paralisar por alguns minutos pós-projeção. Levam à reflexão e certamente cumprem seu papel de passar uma mensagem. Aconteceu comigo em filmes como "Cidade dos Sonhos", "Dançando no Escuro" e "Central do Brasil" - só para ficar em exemplos bem diversificados. Alguns deles deixam um ponto de interrogação e uma pertubação característica, como é o caso de "Cidade dos Sonhos", não por acaso uma obra de David Lynch; outros batem forte e revoltam, deixando um tremendo vazio, como "Dançando no Escuro", que apresenta uma performance incômoda de uma surpreendente Björk; por fim há aqueles que emocionam, mesmo trazendo uma mensagem simples e de fácil absorção, aqui representado pelo brasileiro "Central da Brasil" e seu choro sincero de uma Fernanda Montenegro estupenda.

Recentemente aconteceu com um filme dos nossos hermanos, "O Segredo dos Seus Olhos", de Juan José Campanella. Se no outro filme do cineasta portenho que vi, "O Filho da Noiva", ele já dava indicações do bom diretor que era, nesse ele vai um passo além. Com o mesmo (e novamente excelente) Ricardo Darín como seu protagonista, Campanella entrega um filme em que olhares, sinais e outros pequenos detalhes fazem a diferença. Tudo salpicado em um interessante roteiro que versa essencialmente sobre a busca, em diversas facetas. A busca obcecada do protagonista Benjamín Espósito (Darín) pelo assassino de uma jovem, casada com o dedicado Ricardo Morales (Pablo Rago), que atravessa anos. Um crime aparentemente solucionado, porém com arestas que se mantém soltas por mais de 20 anos. Mesmo tempo em que outra busca de Benjamín perdura, a do amor por Irene Hastings (Soledad Villamil), sua então chefe quando o crime ocorreu e quando eles eram responsáveis por solucioná-lo. Um amor nítido durante todo o tempo da projeção, mas que não é explicitado por Benjamín em nenhum momento. Duas buscas que consomem a vida de uma pessoa, interligadas e incompletas até praticamente o fim desta obra, certamente merecedora da estatueta de Melhor Filme Estrangeiro do Oscar 2010.

Um comentário:

Alexandra Monteiro disse...

Um filme incrível, de uma sensibilidade ímpar! e a grande verdade que é colocada: "um homem pode mudar tudo na sua vida, menos a paixão" me ganhou!