domingo, 7 de março de 2010

Improvável cubana



Adoro viajar de avião. É bem verdade que é um programinha um tanto cansativo, em trajetos longos como a ida a Cuba. Aproveito o tempo teoricamente ocioso para ler um bom livro, adiantar a pilha de revistas que acumulo e tirar o atraso do sono. Não sou do tipo que curto um bate-papo interminável com o desconhecido da poltrona ao lado, prefiro curtir a temporária solidão em paz. Mas, de vez em quando, umas figuras especialmente interessantes desviam minha intenção. Na segunda perna da ida a Havana, no trecho entre a Cidade do Panamá e a capital cubana, sentou-se ao meu lado uma loira entupida de apetrechos dourados, vestida toda de branco (incluindo botas da mesma cor, de cano longo) e segurando uma maleta vermelho sangue - toda decorada com as garotas superpoderosas. Uma figura que não passa desapercebida nem no Carnaval da Bahia. Fiquei imaginando de onde saíra aquela mulher e aproveitei para bisbilhotar enqaunto ela preenchia o cartão da imigração. Não acreditei quando a vi colocando Cuba como país de nascimento. De fato, a imagem das senhoras elegantes e discretas do Buena Vista Social Club influenciaram nessa minha surpresa.

De repente, para completar, a loira começou a cantar baixinho alguma música típica de Cuba, numa afinação surpreendente. Cantava lindamente, mostrando que ali nas veias circulava sim algum sangue caribenho. Nada como algo improvável para quebrar um preconceito descabido. Em busca de alguma interação, ela me perguntou coisas triviais, como se o molho do frango era picante e se a sobremeda era boa. Bom, não estava muito a fim desse bate-papo de elevador, mas ela acabou se mostrando uma ótima narradora do caos que se passava fora da eronave. Logo antes da aterrissagem, uma turbulência que deixou apreensivo até quem não tem medo de avião (como eu), deu um pouco de emoção aos minutos finais do vôo. O branco absoluto na janela, o balanço interminável do avião, tudo culminou no pior pouso que já presenciei. O alívio era tanto que até as irritantes palmas no final fizeram algum sentido. Como saldo final foi, de fato, um trajeto bem interessante, com o brinde da descoberta de que também existem cubanas no estilo Miami Beach, ainda morando na Ilha.

Um comentário:

cindy disse...

oi! sou produtora da zefirina bomba preciso do teu endereço pra te enviar nosso novo cd! passa pro : zefirinabomba@uol.com.br