quarta-feira, 3 de março de 2010

Ilha dos símbolos



Existe uma natural curiosidade do estrangeiro em conhecer Cuba, país que há anos sofre um forte embargo dos Estados Unidos e que ficou conhecido no mundo inteiro pelo socialismo implantado pelo ditador Fidel Castro. Seja por sua música, suas bebidas típicas, suas praias, seus charutos ou sua fama de nação que parou na década de 60, Cuba tornou-se um destino desejado. Há muito de mística nisso tudo, mas de fato Havana é uma cidade das mais simpáticas. Apoiando ou não o regime dos irmãos Castro, há muito o que se ver e há muita cultura para admirar nessa pequena ilha do Caribe. É bem verdade que pouco tempo tive para andar nas ruas de Havana Vieja e que não fui às famosas praias de Varadero e Cayo Largo, mas as impressões iniciais não costumam falhar.

Primeira constatação: nunca, sob nenhuma hipótese nas próximas cinco gerações, será possível implantar uma lei antifumo em Cuba, nos moldes da que vem sendo disseminada no Brasil. Instituição nacional e dono de uma fumaça frondosa, o charuto cubano é visto por todas as partes. Logo no aeroporto, ao entrar num minúsculo elevador com outras quatro pessoas, vi um senhor fumava seu "puro" sem qualquer cerimônia. A fumaça, claro, inundava o ambiente. Nas ruas, representantes do mercado negro oferecem caixas de 25 unidades por preços bem mais acessíveis que nas lojas, de marcas famosas como Cohiba, Partagas e Montecristo. Mesmo comprando nos pontos, digamos, oficiais, uma caixa de um bom charuto cubano sai por muito menos que em qualquer lugar fora da ilha.

Nas ruas de Havana, circula outro símbolo: o carrão antigo. Por conta do embargo, grandes automóveis americanos dos anos 50 ainda existem em grande quantidade na cidade - uns em bom estado, outros caindo aos pedaços. Andar em um deles - algo bem possível, afinal muitos são táxis - virou programa turístico. Só é necessário fugir de uma praga, os carros russos da Lada, que sumiram do Brasil, mas ainda infestam Havana. Mas engana-se quem acha que os automóveis antigos reinam sozinhos. Carros modernos japoneses, europeus, latino-americanos, ou seja, quaisquer menos os norte-americanos, já existem aos montes na capital. Em quantidade bem maior do que eu imaginava, devo confessar. A rejeição a produtos americanos, como é de se imaginar, não se restringe aos carros novos, mas também a todos os outros produtos da cadeia de consumo. Inclusive, ao fazer o câmbio, utilize o euro, pois o pouco querido dólar sofre uma taxação maior que as outras moedas. A princípio você pode até achar que a Coca-Cola encontrada nos bares e restaurantes é uma exceção, mas os cubanos justificam que aquela Cola é fabricada no México. Bom, é verdade, mas acho que nessa Fidel falhou, não é mesmo?

Andar em Havana Vieja é de fato uma experiência única. Nos muros, frases como "El sistema socialista es intocable" e ilustrações de ícones como Che Guevara e Simón Bolívar dão o clima apropriado. Construções anteriores ao regime socialista, como o imponente Capitólio, o Castelo de San Salvador de La Punta e belas igrejas, dividem espaço com sobrados caindo aos pedaços. Não há miséria aparente nas ruas, mesmo que a pobreza moderada seja constante, mas sempre há pessoas que buscam um dinheirinho a mais (a famosa propina) para compensar o pouco salário que recebem do governo. Ser brasileiro, nesse caso, é vantagem, pois a admiração deles por nós é nítida e é mais fácil levá-los na simpatia. Infraestrutura é um problema, principalmente quando se fala em grandes obras (que não acontecem há mais de 50 anos) e em novas tecnologias, como a Internet (lentíssima em todo canto).

Entre os programas imperdíveis, não há como deixar de lado o delicioso mojito e o daikiri, drinks que descem redondos feitos de outro clássico cubano, o rum. Se o programa etílico for acompanhado de música típica, como no Bodeguita del Medio - onde Ernest Hemingway tomava os seus porres -, melhor ainda. Afinal, não podemos esquecer que Cuba é a terra do Buena Vista Social Club e de muitos outros grandes músicos, que praticam uma música que transborda em latinidade e emoção.

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