domingo, 17 de julho de 2011

Playlists da vida



A peça "Trilhas Sonoras de Amor Perdidas" despertou as mais diversas sensações em mim. A principal delas, não vou mentir, foi a saudade. Longe da melancolia, afinal não troco a minha vida de hoje pelo passado, mas uma saudade boa de tempos que não voltam mais. Assim como o ótimo filme "Alta Fidelidade", "Trilhas Sonoras..." usa a música para contar uma história de amor (ou várias, no caso do filme), com todas as desventuras, encontros e desencontros. E o que importa aqui são as fitas cassetes gravadas, depois substituídas pelos CD-Rs e por fim pelas hoje famosas playlists. Todas aquelas músicas tocadas na peça, algumas poucas novas para mim e a maior parte componente da minha história, me levaram para anos atrás, em Salvador.

Uma das lembrança mais antigas foi o primeiro apartamento que vivi, em São Lázaro. Meu irmão costumava ouvir música às alturas, com a porta do quarto fechada. Ainda guri, não me interessava pelo rock que saía pelas frestas da porta. Pouco tempo depois, já estava fuçando os CDs dele e encontrando algumas das bandas que até hoje estão entre as minhas favoritas. Foi assim que conheci o Led Zeppelin, por exemplo, até hoje meu número 1. Ouvir bandas deste tipo enquanto meus amigos na escola no máximo escutavam Dire Straits - estamos falando de Salvador, não se esqueçam - parecia até um segredo bem guardado. Um segredo, porém, compartilhado com meu irmão, minha irmã e meus primos, que me colocaram no caminho do rock.

A peça dirigida por Felipe Hirsch em seguida me lembrou do tempo que passei a ser o jovem com porta fechada, abafando o som às alturas. Tomava banho todos os dias ouvindo um CD diferente, colocando o som no chão do banheiro e descobrindo novas bandas. Em seguida veio meu primeiro carro, que levava cases dos álbuns que faziam minha cabeça. Versões em miniatura dos cases de mais de 200 CDs que eu levava debaixo do braço para as casas dos amigos. Ao entrar na faculdade, nova fase. Estudando jornalismo, encontrei outras pessoas que curtiam rock como eu. Com um grupo heterogêneo, comecei a me tornar rato do Rio Vermelho, principal bairro boêmio e musical de Salvador. O rock da Bahia entrou na minha circulação sanguínea e passei a conviver com pessoas que gostavam ainda mais das boas canções. Algumas delas eram de fato bem semelhantes aos personagens principais de "Trilhas Sonoras de Amor Perdidas", interpretados por Guilherme Weber e Natália Lage.

Daí a me tornar jornalista musical foi um passo. Produzir um programa de videoclipes na TV Salvador, montando minhas próprias playlists, era a realização de um sonho. Conhecer alguns dos meus artistas favoritos e entrevistá-los no Correio da Bahia só aumentou a participação da música na minha vida. Os seguidos festivais, que desde 2001 se acumulam em listinhas do que já vi e do que quero ver, não deixam a chama do rock se apagar. Mas a peça que assisti hoje serviu também para me atiçar, lembrando que não devo deixar a correria do dia-a-dia tirar o prazer que sempre tive de montar playlists, revisar meus CDs e revisitar as bandas que fizeram parte da minha história e que, por algum motivo, acabaram substituídas por outras mais novas. Afinal, elas são testemunhas da minha história.

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