segunda-feira, 17 de janeiro de 2011

A errante Amy


Amy Winehouse passou como um furacão pelo Brasil. Um furacão de grau não tão destruidor na escala Ritcher, pois metade dos escândalos esperados não ocorreu. A garota inglesa fez todos os shows, atrasou pouco e não foi recolhida bêbada na sarjeta. Ávida por um tropeço mais sério da cantora, a imprensa brasileira acompanhou cada passo. No hotel, conseguiu imagens de Amy pagando peitinho, cambaleando na beira da piscina e notícias sobre um suposto quebra-quebra na suíte do Hotel Santa Tereza, além de uma briga com um fã que a importunava há dias na porta do seu retiro (Amy pouco saiu do hotel, sábia decisão para fugir de confusão). Show a show, até o último realizado no sábado passado, os jornalistas dos jornais e sites de notícias brasileiros mais criticaram do que elogiaram a moça. E as manchetes se repetiam: "Amy esqueçe as letras", "Amy cai no chão", "Amy sai do palco e deixa público apreensivo", e por aí vai.

Será que foi tão desastroso assim? Acompanhei a cobertura, em geral, pouco criativa da imprensa e vi vídeos de todos os shows pelo Brasil. Em São Paulo, estive lá, firme e forte, na frente do palco do Summer Soul Festival. Meu veredicto: se não foi genial, Amy Winehouse ainda assim superou minhas expectativas e mostrou que é de fato uma ótima cantora. Não é animada, não traz o dom de comandar um público de 30 mil pessoas e é nitidamente tímida e desajeitada. Mas tem uma linda e original voz, além de boa canções. Cantou por pouco mais de 1 hora e deu espaço para um dos vocalistas de apoio tomar a dianteira em duas músicas, dois assuntos que estavam no cerne de muitas críticas. Só esqueceram de pesquisar um pouco e perceber que os shows dela sempre tiveram esses dois artifícios, ninguém foi enganado. Se alguém queria ver um show de três horas, com pirotecnia e seguidos "I love you Brazil", deveria ter escolhido algum outro artista. Essa não foi - e arrisco, nunca será - uma caracterítica de Amy. Ela entregou o suficiente para uma noite de boa música, completada por duas outras boas atrações internacionais: Mayer Hawthorne e Janelle Monae. A experiência de vê-los ao vivo, é bem verdade, foi prejudicada por alguns fatores. Se fosse num teatro, certamente seria melhor aproveitado; se a produção prestasse, as pessoas não teriam problemas com bebida, estacionamento, telões e comida.

Após todos os problemas que Amy Winehouse teve, colocando em dúvida inclusive se ela ia sobreviver por muito tempo com comportamento tão autodestrutivo, não posso deixar de dizer que fiquei feliz em ver Amy tentando superar seus traumas. Ela já está bem melhor do que esteve e a tendência é que melhore gradativamente. O fato dos brasileiros terem tido a oportunidade de acompanhar a volta de uma artista que é uma das mais admiradas do mundo em primeira mão, é um privilégio. Triste mesmo é ver parte do público agindo como se tivessem num circo. Muitos queriam era vê-la caindo de bêbada, trocando as letras e abandonando o show no meio. Pouco preocupados com a música, observavam mesmo era cada gesto suspeito, vibrando a cada gole - seja lá o que Amy estivesse bebendo. Talvez esse público tenha ficado decepcionado ao vê-la feliz. Bom, da próxima vez, vão alimentar os macacos e deixe o show para quem gosta da boa música.

segunda-feira, 10 de janeiro de 2011

Prazeres de viajante



Quem lê esse blog com alguma assiduidade ou me conhece de outros Carnavais, sabe que entre as coisas que mais gosto estão a música e o cinema. Não à toa, trabalhei por quatro anos com cultura, entrevistando alguns dos meus ídolos, abrindo a cabeça para coisas diferentes, vendo filme e lendo livros com um olhar mais crítico. Tempos bons, mas que hoje equivalem mais a hobby que labuta. Mas se tem outra coisa que adoro fazer - e esse blog é testemunho disso - é viajar. Seja a trabalho ou a lazer, viajar é uma das coisas mais prazerosas que existem. Conhecer novos lugares, retornar a cidades e países que gostamos. Na minha vida profissional, tive a oportunidade de conhecer países bem diferentes, desde Cuba a Angola, passando pela Líbia, Peru, República Dominicana e muitos outros. Nos dois intercâmbios que fiz - o primeiro nos Estados Unidos e o segundo dividido entre Espanha e Portugal - pude mergulhar nessas culturas e viver como nativo em cidades bem distintas - Saint Joseph (Missouri), Santiago de Compostela e Coimbra. Cresci muito em cada uma dessas experiências e se fosse psicólogo receitaria esse artifício para qualquer crise: viaje, seja sozinho ou acompanhado.

Dentro dessa experiência completa que é viajar, duas questões que muitas vezes são os calcanhares de Aquiles de quem não gosta tanto de viajar, estão entre as minhas favoritas: avião e hotel. Adoro voar, me sinto completamente à vontade dentro de uma aeronave. Com ou sem turbulência (claro, das mais leves), aproveito o tempo teoricamente ocioso para fazer algumas das coisas que mais gosto: ler um bom livro, adiantar a pilha de revistas, ver um filme, escutar música e até mesmo dormir. Agradeço por não ter qualquer medo de avião, afinal viajar se tornou uma rotina no meu trabalho. Se tem uma parte ruim nessa história toda é aeroporto. Não é prazer chegar muito tempo antes, pegar longas filas, trocas de portão e atrasos. Pelo menos no Brasil, essa é a tônica.

Já o hotel é apontado como culpado por muitas pessoas que não gostam de dormir em lugares novos e que culpam a impessoalidade de um quarto pelo desprazer de visitar outras regiões. Para mim é justamente o contrário. Dormir em lugares diferentes pode trazer novas sensações e, como eu durmo bem em qualquer canto, uma noite em hotel pode ser bem prazerosa. Podem me chamar de louco, mas adoro a sensação de abrir a porta de um hotel e conhecer um novo quarto. Mexer em cada canto e descobrir pequenas bobagens que não agregam tanto a estadia, mas, bem, são novidades. Por isso, quando posso escolher, o hotel vira sim prioridade. Não acredito na teoria "só vou ao hotel para dormir e tomar banho", até porque dormir com prazer é parte imprescindível numa viagem. E por mais que se passe pouco tempo no hotel, cada minuto agrega positivamente (ou não, afinal nem sempre nos deparamos com a melhor estadia). Quem pode reclamar de uma boa cama, ar condicionado no ponto certo, banheiro confortável e serviço de quarto? Gosto de ser paparicado, ora pois.

Um outro ponto não é exclusivo de viagem, mas agrega bastante em cada uma delas: restaurantes. Um bom almoço ou jantar é também uma experiência completa, inclusive para desbravar uma cultura diferente. Só que em São Paulo isso também entra no meu hall de programas prediletos. Aliás, com a oferta que a Paulicéia oferece, tenho que manter listas e mais listas de restaurantes a visitar. Pena que o Brasil seja um dos países mais caros em termos de bons restaurantes. Por incrível que pareça, jantar em um excelente restaurante europeu sai mais em conta que nos tops de São Paulo e Rio de Janeiro, principalmente. Sendo assim, em uma viagem, seja para uma praia vizinha, seja para a Argentina, a visita a um bom restaurante tem o seu lugar. Bon appétit e boa viagem!