sábado, 6 de novembro de 2010

Uma continuação arrebatadora



Confesso que fiquei um tanto cético quando soube que Tropa de Elite teria uma continuação. Quando um filme já nasce como uma série, geralmente as continuações têm razão de existir. Quando elas são forjadas em cima do sucesso do primeiro filme, a chance de se tornarem bombas é grande. Um dos exemplos mais emblemáticos dos últimos anos foi Matrix, que impressionou na primeira parte e só foi piorando nas duas seguintes. Tropa de Elite veio como um soco no estômago, apresentou um dos personagens mais fortes da cinematografia nacional - o Capitão Nascimento de Wagner Moura - e colocou o país inteiro em debate. A expectativa para a continuação era imensa, portanto. Confiando no discurso coerente do diretor José Padilha, comecei a imaginar que ao menos um filme à altura poderia sair dali. Qual não foi a minha surpresa quando constatei que Tropa de Elite 2 é na realidade superior ao seu antecessor. Corajoso e ousado, é um filme que convida à reflexão e prende do início ao fim.

A primeira sacada de Padilha foi tirar o Bope do centro das atenções. Um filme de pura ação mostrando a atuação dos caveiras seria a solução mais fácil em busca do sucesso, porém a mais preguiçosa também. Não que o Bope não tenha um papel importante nessa sequência, porém ele aparece como parte da narrativa e é desconstruído como apenas mais uma peça do complexo esquema de corrupção que toma conta do Rio de Janeiro. Padilha, entretanto, não é bobo nem nada e fortalece ainda mais o Capitão (agora Coronel) Nascimento. Uma escolha certeira, afinal má coisa não poderia vir do excelente Wagner Moura. Elaborar um Nascimento bem mais maduro, um tanto amargurado e cansado, porém não menos implacável, deu o gás que o filme precisava. Se na primeira parte, ele dividia as atenções com o aspira interpretado por André Ramiro, aqui ele reina com maior destaque. Não deixa de ter alguns antagonistas, o mais complexo deles interpretado pelo ótimo Irhandir Santos. Ele faz o Fraga, militante dos direitos dos presos e que começa a perceber como a engenhoca dos favorecimentos rola no Rio. O interessante é que Fraga não é um vilão, está mais perto de um herói errante, mas sempre se coloca no caminho de Nascimento - na vida profissional e pessoal.

Os grandes vilões dessa segunda parte não são os traficantes do Rio, mas sim as milícias que os substituem em muitas das favelas cariocas. A polícia corrupta e os políticos sem caráter se aproveitam da fragilidades dos que moram nesses rincões desfavorecidos e fazem a festa. Dinheiro fácil rola solto, currais eleitorais são formados e o banditismo muda de lado. Nascimento demora um pouco para perceber como funciona esse esquema, mas quando descobre o bicho pega. E o envolvimento direto de sua família na história o deixa ainda mais louco. Se os bordões da primeira parte não aparecem com vigor nessa continuação (ainda bem), o Tropa 2 deixa como herança uma série de cenas memoráveis como a luta de judô entre Nascimento e o filho, a saraivada de balas que o carro do Coronel recebe logo no início do filme, a surra que ele dá em um dos políticos mais asquerosos da história e um fortíssimo discurso despejado em pleno Congresso Nacional. O público, naturalmente, vem respondendo ao filme com cinemas cheios. Tropa de Elite 2 caminha para se tornar o filme brasileiro mais visto de todos os tempos, alcançando a "Dona Flor e Seus Dois Maridos", que levou 10,2 milhões de pessoas às salas na década de 70. Já é o filme mais visto desde a Retomada, tomando o lugar do apenas engraçadinho "Se Eu Fosse Você 2". Um orgulho e tanto ver o cinema nacional em tão bons lençóis.

2 comentários:

Rounds disse...

man,

comecei a ler o post, mas não vou continuar, pois não assisti o filme ainda - rs

abs

Anônimo disse...

Sensacional! critica fantástica do mais cotado filme nacional dos últimos tempos! Parabéns!