sábado, 20 de novembro de 2010
BBMP!*
Não posso me considerar o mais fanático dos torcedores, até porque no estado onde eu nasci, a concorrência é muito grande. Mas desde que me conheço por gente, acompanho assiduamente a trajetória do Esporte Clube Bahia, meu time do coração. O Esquadrão de Aço, um dos vários apelidos do Bahia, é uma verdadeira novela mexicana. Tudo é drama, sofrido, com eventuais explosões de alegria e algumas decepções. Estamos, ainda bem, em um momento de euforia, pois após sete anos, retornamos à Série A. Nunca na história, a torcida tricolor sofreu tanto: cinco anos de série B e mais dois vergonhosos anos na Série C maltrataram a mais fiel das torcidas brasileiras. Por isso que digo que não sou fanático. Como me comparar com os torcedores que mal ganham um salário mínimo e praticamente deixam de comer para assistir a todos os jogos do Bahia? Não é exagero, vide o exemplo do campeonato de 2007, na Série C, quando o Bahia teve média de público maior que TODOS os outros times, inclusive os da Série A e Série B. Como se não bastasse, esses fãs inseparáveis ainda tiveram que sofrer com a queda de um pedaço da arquibancada da Fonte Nova nesse mesmo ano, que resultou em mortes e no fechamento do estádio. Nada porém que abatesse completamente a torcida, que agora enche o Pituaçu em todas as rodadas. Não cabe espaço para quem quer e todos esperam ansiosamente pela reabertura da Arena Fonte Nova.
Lembro com carinho de alguns momentos incríveis que passei na Fonte Nova. Primeiro, com meu pai - também torcedor fiel - que primeiro me levou ao estádio. Naquela época, ver uma partida do Bahia era um programa familiar, a violência praticamente inexistia. Entre todos os jogos que vi nessa fase, um marcou pelo inusitado e não tanto pela importância do jogo. Foi um 10 a 0 (ou 10 a 1? Já não lembro) contra o Fliuminense de Feira. Na minha inocência de criança, fiquei embasbacado com a performance do time, desconsiderando a fraqueza do adversário. Com o tempo, passei a frequentar a Fonte Nova com os amigos do colégio. Foram diversos jogos memoráveis e muitos outros decepcionantes, no início da derrocada do Bahia. Um dos mais marcantes foi o 4 x 1 em cima do Flamengo, com três belos gols de Jajá. Corria o ano de 2000 e a torcida empolgada e como sempe exagerada, já vislumbrava o Bahia em Tóquio. Outro jogo inesquecível foi a final do Campeonato do Nordeste de 2001, contra o Sport. Os quase 70 mil pagantes viram o Tricolor meter 3 a 1 no rubro-negro pernambucano. A festa da torcida era tão bonita que um amigo do colégio, torcedor do Vitória que resolveu ir ao jogo só pela farra, não desgrudava os olhos da vizinha Bamor, a mais bonita torcida organizada do time. O chão balançava e a torcida não parava de gritar e cantar. Um momento que não sai da minha cabeça até hoje.
Menos tolerante do que os outros torcedores do Bahia, passei a ir bem menos ao estádio após a queda para a Segunda Divisão, em 2003. Menos ainda após o acidente da Fonte Nova, quando o time quase chegou ao fundo do poço. Não deixei de acompanhar os jogos, entretanto, pela televisão, rádio e internet. Desde que vim morar em São Paulo, assisti a um Bahia e Portuguesa no Canindé, reencontrado o Esquadrão de Aço. Impressionante ver a torcida do Bahia ainda maior que a da Portuguesa, jogando na casa do adversário. Afinal, o que não falta é torcedor do tricolor baiano na Paulicéia. E são esses torcedores que prometem compor um grande público no próximo sábado, dia 27/11, no Morumbi. Partida festiva contra o Bragantino, encerrando a boa campanha que coloca o Bahia novamente na elite do futebol brasileiro. Como o baiano gosta, terá direito a show musical, exclusivo para as caravanas de torcidas organizadas e torcedores saudosos que vivem em São Paulo. Festa digna de um campeonato mundial, típica do torcedor fanático que se contenta com uma mínima alegria. Para 2011, resta rezar e torcer para o Bahia enfim entrar nos eixos. A fiel torcida merece.
*BBMP é a sigla da singela expressão "Bora Bahêa Minha Porra", expressão mais baiana impossível, que antes já era usada, mas com a multiplicação das redes sociais, virou febre.
sábado, 6 de novembro de 2010
Uma continuação arrebatadora
Confesso que fiquei um tanto cético quando soube que Tropa de Elite teria uma continuação. Quando um filme já nasce como uma série, geralmente as continuações têm razão de existir. Quando elas são forjadas em cima do sucesso do primeiro filme, a chance de se tornarem bombas é grande. Um dos exemplos mais emblemáticos dos últimos anos foi Matrix, que impressionou na primeira parte e só foi piorando nas duas seguintes. Tropa de Elite veio como um soco no estômago, apresentou um dos personagens mais fortes da cinematografia nacional - o Capitão Nascimento de Wagner Moura - e colocou o país inteiro em debate. A expectativa para a continuação era imensa, portanto. Confiando no discurso coerente do diretor José Padilha, comecei a imaginar que ao menos um filme à altura poderia sair dali. Qual não foi a minha surpresa quando constatei que Tropa de Elite 2 é na realidade superior ao seu antecessor. Corajoso e ousado, é um filme que convida à reflexão e prende do início ao fim.
A primeira sacada de Padilha foi tirar o Bope do centro das atenções. Um filme de pura ação mostrando a atuação dos caveiras seria a solução mais fácil em busca do sucesso, porém a mais preguiçosa também. Não que o Bope não tenha um papel importante nessa sequência, porém ele aparece como parte da narrativa e é desconstruído como apenas mais uma peça do complexo esquema de corrupção que toma conta do Rio de Janeiro. Padilha, entretanto, não é bobo nem nada e fortalece ainda mais o Capitão (agora Coronel) Nascimento. Uma escolha certeira, afinal má coisa não poderia vir do excelente Wagner Moura. Elaborar um Nascimento bem mais maduro, um tanto amargurado e cansado, porém não menos implacável, deu o gás que o filme precisava. Se na primeira parte, ele dividia as atenções com o aspira interpretado por André Ramiro, aqui ele reina com maior destaque. Não deixa de ter alguns antagonistas, o mais complexo deles interpretado pelo ótimo Irhandir Santos. Ele faz o Fraga, militante dos direitos dos presos e que começa a perceber como a engenhoca dos favorecimentos rola no Rio. O interessante é que Fraga não é um vilão, está mais perto de um herói errante, mas sempre se coloca no caminho de Nascimento - na vida profissional e pessoal.
Os grandes vilões dessa segunda parte não são os traficantes do Rio, mas sim as milícias que os substituem em muitas das favelas cariocas. A polícia corrupta e os políticos sem caráter se aproveitam da fragilidades dos que moram nesses rincões desfavorecidos e fazem a festa. Dinheiro fácil rola solto, currais eleitorais são formados e o banditismo muda de lado. Nascimento demora um pouco para perceber como funciona esse esquema, mas quando descobre o bicho pega. E o envolvimento direto de sua família na história o deixa ainda mais louco. Se os bordões da primeira parte não aparecem com vigor nessa continuação (ainda bem), o Tropa 2 deixa como herança uma série de cenas memoráveis como a luta de judô entre Nascimento e o filho, a saraivada de balas que o carro do Coronel recebe logo no início do filme, a surra que ele dá em um dos políticos mais asquerosos da história e um fortíssimo discurso despejado em pleno Congresso Nacional. O público, naturalmente, vem respondendo ao filme com cinemas cheios. Tropa de Elite 2 caminha para se tornar o filme brasileiro mais visto de todos os tempos, alcançando a "Dona Flor e Seus Dois Maridos", que levou 10,2 milhões de pessoas às salas na década de 70. Já é o filme mais visto desde a Retomada, tomando o lugar do apenas engraçadinho "Se Eu Fosse Você 2". Um orgulho e tanto ver o cinema nacional em tão bons lençóis.
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