quarta-feira, 28 de julho de 2010

A abominável Pista VIP



Isso só pode ser idéia de algum capitalista elitista... Inventaram um troço chamado Pista VIP, que até pouco tempo atrás só dava as caras em alguns eventos específicos, mas agora resolveu se espalhar por praticamente todos os shows. Não importa, seja numa casa relativamente pequena como a Via Funchal, seja num espaço maior como o Morumbi, sempre há um naco de chão para os mais abastados. Com o absurdo que hoje é cobrado por cada show - o que coloca o Brasil no topo entre os países que mais cobram no mundo por uma boa apresentação musical - a tal área VIP custa muita grana, coisa que devemos pagar somente para ver a nossa banda favorita. Pois bem, como a maior parte dos fãs do rock não tem dindin para ficar na frente do palco, eles têm que se contentar em assistir à distância. E nem adianta virar a noite na porta, se seu ingresso for da pista comum, isso só lhe dará alguns poucos metros à frente da ralé. Quer um exemplo? É só olhar a ilustração deste post, que identifica a grande área VIP Premium do SWU, festival que acontece em outubro, em Itu (SP). Absurdo.

Situações como essa leva a cenas vexaminosas. Em muitos shows, é possível enxergar um clarão na frente do palco e um amontoado de gente atrás de uma segregadora grade. Afinal, pelo preço que se paga, nem sempre dá para encher a área do povo importante. Lembro de uma situação um tanto quanto diferente, mas que acabou se tornando exemplar pela atitude do público. Aconteceu em 2004, no Curitiba Pop Festival, evento que trouxe o Pixies pela primeira vez ao Brasil. Na ocasião, o festival estava marcado para a bela Ópera do Arame. A procura de ingressos foi tão grande que os organizadores resolveram mudar para a Pedreira, logo ao lado, com muito mais espaço. Para compensar aqueles que compraram ingresso para um espaço bem mais aconchegante, resolveram dizer que os ingressos da Ópera do Arame davam direito a uma área VIP na frente do palco da Pedreira. Os retardatários que só conseguiram entradas quando o evento aumentou de tamanho, teriam que ficar na pista comum. Isso com todo mundo pagando igual. Bom, logo no primeiro dia, quando tocou o Teenage Funclub, já trataram de derrubar a grade que separava uma pista da outra. Aos gritos de "fim do apartheid" que gritava o cantor de uma banda de punk que não me lembro o nome, o público tirou aquela divisão sem sentido do caminho. Não houve qualquer resistência.

O que ocorreu em Curitiba provavelmente não se repetirá em nenhum dos shows que infestam o segundo semestre no Brasil, afinal quem pagou muito mais não aceitará pacificamente uma invasão da sua área VIP. Resta torcer para que os organizadores escutem as reclamações e acabem com esse artifício pouco democrático. Afinal, a frente do palco é dos fãs mais ardorosos e não dos mais abastados!

quarta-feira, 14 de julho de 2010

O vazio da Copa que se foi



O fim da Copa do Mundo dá um vazio danado. Ainda mais em casos graves como o meu, que torço para o Bahia e não vejo cheiro de título há anos. Ver meu time do coração passando por percalços na Segunda Divisão é demais para um amante do bom futebol. Então quando acaba essa maratona de grandes jogos em um curto mês, os quatro anos de espera para a batalha seguinte parecem eternos. Uns vão dizer que em dois anos já tem Olimpíadas, mas não tem jeito, não dá para comparar.

Copa do Mundo é uma das festas mais bonitas e absorventes que existem, difícil não mergulhar com tudo no universo futebolístico. No Brasil então, a coisa fica mais difícil, e até um jogo entre Eslovênia e Argélia reúne curiosos ao redor da tevê. Imagine em 2014, quando o torneio (aparentemente) acontecerá no Brasil. Aliás, esse será um dos motivos para que os tais quatro anos de jejum passem ainda mais devagar. A ansiedade é maior e o Brasil não participará das Eliminatórias, imaginem só que angústia? Até lá, vamos nos cansar de tantas notícias sobre os problemas do Comitê Organizador e teremos que ficar bem atentos à venda de ingressos. O temor de não conseguir ingressos para os jogos do Brasil em 2014 vai perseguir a muitos.

Desta Copa sul-africana que passou fica a decepção com o futebol apático dos comandados de Dunga, que perdeu para um time apenas razoável, a Holanda, e só teve pequenos lampejos de genialidade (especialmente no jogo contra o Chile). Numa Copa em que somente Alemanha e Espanha tiveram vários momentos de fato inspirados, ficou registrado também o paradoxo da Laranja Mecânica. No ano em que a Holanda enfim retornou às finais, depois de dois vices em 1974 e 1978, sua Seleção conseguiu a proeza de cair em desprestígio em todo o mundo. Longe de encantar, ficou marcada pela violência, catimba e pragmatismo. Anos-luz da equipe liderada por Johan Cruyff na década de 70, esse time da Holanda também se mostrou bem inferior àquele da geração de Gullit, Rijkaard e Van Basten, que jogou nos anos 90, mas nada levou. Na África do Sul, a Holanda colocou-se no segundo lugar do pódio, mas sem dar exemplo.

Pois então, já se foram as vuvuzelas e as jabulanis, não adianta lamentar. Agora é torcer para que o Brasil não faça feio, frente ao bom trabalho feito pelos sul-africanos, e aproveite a Copa do Mundo para arrumar essa bagunça em que nós vivemos. O país precisa de infraestrutura e as duas competições esportivas que estão por vir (somando aí as Olimpíadas) são boas desculpas para ajeitar as principais capitais do país. Temos que torcer - com dedos bem cruzados - para que o Comitê Organizador de 2014 preze pelo bom gosto e não transforme tudo em um verdadeiro folclore tupiniquim. Nós não precisamos de mais estereótipos...

quinta-feira, 1 de julho de 2010

O encanto catalão



Barcelona tem uma aura especial. É difícil de explicar, mas de todas as cidades da Espanha que conheci, ela é a mais mágica e encantadora. Tive a oportunidade de retornar na semana passada, para uma curta viagem de dois dias e tive uma nova degustação da cidade catalã. A vontade de ficar era grande, mas não há como ficar longe do Brasil nesse clima de Copa do Mundo. Ver Brasil e Portugal em terras estrangeiras não me soava muito bem. Vai que dá azar...

O que mais impressiona em Barcelona é a sua inusitada arquitetura. Para além dos prédios antigos e imponentes que também dominam as suas ruas, sãs as obras únicas, para não dizer bizarras, de Gaudí, que realmente fascinam. A começar pela Sagrada Família, templo católico dos mais misteriosos, ainda inacabado, símbolo gótico de Barcelona. Talvez seja esse equilíbrio do gótico – que tem um bairro que leva seu nome – com a alegria que transborda nas suas ruas, que faz a cidade ser tão especial. A animada e movimentada Rambla, o renovado Porto Olímpico (exemplo vivo de como uma competição esportiva pode beneficiar uma cidade – fica de olho, Rio de Janeiro!), o belíssimo Parc Güell, as coloridas fontes de Montjuïc são alguns dos destaques da cidade. Lá também é a casa de um dos times de futebol mais simpáticos do mundo, o Barcelona, onde muitos brasileiros fizeram (e fazem) história. Entre os grandes destinos turísticos da Europa, Barcelona tem um quê especial por também ser uma cidade costeira, oferecendo uma praia que é bem freqüentada por turistas e moradores.

A comida mediterrânea, com destaque para a inconfundível paella acompanhada pelos bons vinhos espanhóis, completam o prazer de uma viagem a Barcelona. O esquisito catalão, falado nas ruas com alguma frequência é outro charme inconfudível da cidade. E não há o que se preocupar, afinal o cidadão de Barcelona é simpático e responde em espanhol se assim for solicitado. Na posição de cidade mais animada da Espanha - e possivelmente uma das mais animadas do mundo -, Barcelona oferece diversas opções noturnas para os jovens. Mas é uma cidade completa para pessoas das mais diferentes idades, é bom dizer. Se coloca provavelmente como carro-chefe da Espanha que, na minha opinião, é o país europeu com mais opções para o turista. Ok, Londres e Paris são insuperáveis, mas como país, a Espanha oferece uma diversidade ímpar. O sul com Sevilla, Córdoba e Málaga; o norte com Bilbao, San Sebastian e Santander; a região de Madrid com Toledo, Segóvia e Ávila; a Galícia com Santiago de Compostela e La Coruña; Valência nas proximidades de Barcelona, e por aí vai. Cidades e regiões muito distintas dentro de um mesmo país, que é hospitaleiro e culturalmente rico.