sábado, 5 de dezembro de 2009

Intercambiando experiências


Tive a sorte de fazer dois intercâmbios de um ano cada, nos Estados Unidos e na Europa. Experiências únicas, bem diferentes entre si, que colaboraram muito para meu crescimento e conquista da independência. Se hoje me adapto bem onde quer que eu viva, sem grandes sofrimentos e encucações, é muito por conta do que vivi no exterior. Por esse motivo, sou partidário radical destas experiências no momento em que o jovem está em fase de formação. Seja no final do Ensino Médio (sem direito a medos e receios em relação ao Vestibular), seja no período da universidade - aproveitando convênios que algumas instituições como a Universidade Federal da Bahia (Ufba) têm. Se você é pai e pode oferecer um intercâmbio a seu filho, não seja egoísta, deixe a saudade de lado e incentive-o. E, por favor, não vá visitá-lo no meio do ano, nada pode ser mais desestabilizador. Aprenda, por mais duro que isso seja: você não faz parte do mundo que seu filho irá contruir fora do país. Simples assim.

O meu primeiro intercâmbio, nos Estados Unidos, pelo tradicional AFS, foi excitante pelo ineditismo, engrandecedor nas alegrias e tristezas que vivi e determinante em algumas das decisões que tomei nos anos que se seguiram. Com 17 anos, vivi pela primeira vez numa pequena cidade, Saint Joseph, em Missouri, numa surreal constatação de que todos os habitantes (70 mil) de lá cabem no estádio da Fonte Nova (na época a Fonte ainda existia e abrigava até 100 mil pessoas). Conheci gente de todo o mundo, dei uma de esportista praticando futebol e tênis (bem fraco nas duas modalidades), aprendi inglês e me diverti muito. Sofri um tanto também, com uma mãe americana das mais instáveis, numa relação de amor e ódio que quase me fez mudar de família. Preferi não dar esse passo, mesmo hoje percebendo que talvez teria sido melhor. Quem compensava era o pai americano e todos os tios e primos que me adotaram como parte da vida deles. As lembranças da desequilibrada Deborah Rathburn até hoje me trazem alguns calafrios. Mas todo o resto foi tão bom, que valeu mais do que a pena. E mais: cresci, como cresci...

A minha segunda experiência foi durante a metade final da graduação em Comunicação. Segui com um grupo de amigos da Ufba para Santiago de Compostola, inesquecível cidade espanhola, perto da fronteira com Portugal. Posso dizer que até hoje sinto saudade dos seis meses que passei por lá, uma vida paralela que precisava ter data marcada para acabar. Os estudos, naturalmente, tiveram uma fração de colaboração nessa experiência - especialmente no que tange ao aprendizado da língua espanhola -, mas não posso mentir ao ponto de dizer que essa fração foi grande. Com um curso de Comunicação não tão bom quanto eu esperava, fui deixando a Universidad de Santiago de Compostela um pouco de lado e mergulhei fundo na cultura - e na farra.

Para quem viveu a maior parte da vida em Salvador, cidade onde tudo acaba às 2h da manhã, Santiago de Compostela era um parque de diversões. Sair de casa perto da 1h da manhã, já turbinado de cerveja, e iniciar uma peregrinação por quatro ou cinco bares até 8 da manhã era nada menos que incrível. Como uma cidade universitária e turística, Compostela reunia um turbilhão de gringos, muito deles brasileiros. Curtir uma verdadeira Torre de Babel e me sentir independente (administrando meu dinheiro, cozinhando - simplesmente sendo dono exclusivo do meu nariz) foram coisas que eu não tinha como comprar na esquina mais próxima. Além do mais, Santiago de Compostela é uma cidade belíssima, vibrante e com uma carga histórica notável. Experimente entrar na Plaza del Obradoiro distraído... Foi assim que eu sai de uma pequena ruela e dei de cara com aquela Catedral gigantesca, de tirar o fôlego. Naquele momento - lembro como se fosse hoje - agradeci imensamente por aquele intercâmbio que se iniciava. Vivi a Espanha intensamente, não só Santiago, mas as outras espetaculares cidades que conheci. Não a tôa, considero-a a nação européia que oferece o melhor turismo, em virtude da diferença que há entre uma região e outra, da estrutura que oferece ao turista, das belezas naturais e dos sítios históricos.

O fato é que, ao final de seis meses, a grana já estava ficando curta e as oportunidades de trabalho não surgiam. Os restaurantes e as lojas botavam a culpa no inverno e eu simplesmente não podia esperar o verão das oportunidades chegar. A convite de amigos do Brasil, me mudei para Coimbra, em Portugal. Também milenar, Coimbra não tem metade dos encantos de Santiago de Compostela, mas lá eu vivi outros tantos momentos inesquecíveis. Trabalhei vendendo TV a cabo de porta em porta, fui o "apanha-copos" de uma boate e fiz as vezes de barman num estabelecimento ligado à universidade. Acabei me divertindo muito em cada um desses trabalhos e juntei a grana necessária para me manter mais seis meses na Europa e para passar um desses meses, inteirinho, correndo a Inglaterra, Holanda, Bélgica, França, Itália e Sul da Espanha. Outras tantas farras e amizades especiais foram feitas em terras portuguesas. O sobrado em que morei, mais conhecido como a Casa da Dona Rosa, e o apartamento dos baianos que era nosso quartel-general são lembranças saborosas de um dos melhores anos de minha vida. Vivido no momento certo, como deve ser.

2 comentários:

Mylena disse...

Leozinho, Leozinho...

Sinto-me na obrigação de tecer o seguinte comentário:
Sempre que possível leio as suas postagens. Esta, DEFINITIVAMENTE, MEUS PARABÉNS... LOUVÁVEL!!!
Conheci um lado seu... CONFESSO! Aumentou, mais e mais, a admiração que tenho por ti!
Que Deus lhe conserve assim, garotinho!!!

Espero que seus "vindouros cinco filhos" tenham as mesmas ou, ao menos, semelhantes oportunidades! Por ora, vá incentivando o Henrique e, a Bebel também, claro! Afinal, ser padrinho e tio é para isso mesmo!!! (risos)

Beijo GRANDE!
Fica com Deus!

Myl.

Anônimo disse...

Oii..
eu estava procurando fotos de santiago de compostela, pq simplesmente nÃo tinha fotos durante o dia aqui e me identifiquei muito com seu depoimento..hahah...
Santiago é muito bom msm!!!
boa sorte!!
beijo!