domingo, 23 de outubro de 2011
Um novo vício
Não me deixo levar tão facilmente por histórias que exploram o universo fantástico. Mas quando são bem engendradas, com roteiros bem feitos e coerentes com o universo que criam, entram na minha lista de favoritos. Foi assim com a trilogia "Senhor dos Anéis", com os últimos três "Harry Potter" e com o primeiro "Matrix". A saga de Neo, aliás, é um exemplo de como errar a mão, quando se observa os dois filmes seguintes, "Reloaded" e "Revolutions". Na ganância de repetir o sucesso da primeira produção, os irmãos Wachowski inventaram continuações sem pé nem cabeça, verdadeiros micos. Outro que vem colecionando erros é M. Night Shymalan, que tanto prometia com sua estréia "O Sexto Sentido" Quando a escolha é por ser mais sutil, as chances de êxito são maiores, caso de alguns filmes de Pedro Almodóvar e do ótimo "Labirinto do Fauno", dirigido por Guillermo del Toro.
Não tenho costume de assistir séries da TV americana, especialmente aquelas cujos capítulos não são fechados em si e demandam acompanhamento semanal. Não que eu não goste, mas a questão é que falta disciplina para acompanhar todos os capítulos religiosamente. E como não sou exatamente uma pessoa que fica muito em casa, a tarefa torna-se ainda mais árdua. Mas eis que as séries passam a ser vendidas como febre em boxes de DVDs e também ficam disponíveis quase que imediatamente na Internet. E não há nada melhor do que assistir um capítulo e poder assistir o seguinte sem precisar esperar uma semana inteira.
Em um contexto, portanto, improvável, acabei me viciando de vez na série norte-americana "True Blood". O universo temático é o mais fantástico possível, com vampiros, telepatas, lobisomens, transmorfos, e por aí vai... Ou seja, nada sutil. A série, que já está na quarta temporada, tem bem mais testosterona que outros produtos ligados a vampiros, como o chatinho "Crepúsculo". É adulta - com doses cavalares de violência e sexo - e traz personagens complexos e bem trabalhados. O roteiro é redondinho, fazendo com que os personagens mais absurdos se encaixem perfeitamente na narrativa. Cada capítulo termina de um jeito tão surpreendente que o mais difícil é desligar o DVD. A tendência é emendar um episódio no outro. Sempre algo de importante acontece, o que mostra que em termos de dramaturgia, nós brasileiros estamos muito atrás. A morosidade de nossas novelas não tem comparação com as (boas) série gringas.
"True Blood" se concentra principalmente na pequena e fictícia cidade de Bon Temps, no estado da Louisiana. Nada melhor que um local onde todos se conhecem e que guarda segredos dos mais incríveis, justamente como outra famosa cidade da televisão, a Twin Peaks da sensacional série de mesmo nome. Só que em Bon Temps não moram só humanos, mas também vampiros e outros seres incomuns. A protagonista é Sookie Stackhouse, telepata que é objeto de desejo de todos. Interpretada pela garota prodígio Anna Paquin, possivelmente no papel de sua vida, Sookie se envolve com o vampiro Bill, que é encarnado pelo inglês Stephen Moyer (hoje marido de Paquin). A partir desse momento, a vida dela vira de cabeça para baixo e nunca mais Sookie terá um dia de paz. Em um mundo em que humanos e vampiros começam a conviver, muitas dúvidas pairam pelo ar e discussões apaixonadas sobre preconceito e aceitação entram na ordem do dia. A primeira temporada de "True Blood é nada menos que excepcional, mas o criador Alan Ball não deixa a peteca cair nas duas temporadas seguintes, que vão ganhando personagens cada vez mais bizarros.
Enquanto espero a quarta temporada acabar - para assistir os episódios sem impedimentos temporais - já começo a pensar na próxima série da lista. Desconfio que estou entrando em um vício que vai me pegar pelo pé. E me despeço sem medo das cada vez mais chatas novelas brasileiras...
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