sábado, 26 de março de 2011

Quem quer dinheiro?



Só quem passou as últimas semanas em Plutão ou vive uma vida completamente offline não ouviu falar da grande confusão em que Maria Bethânia, possivelmente a melhor cantora viva do Brasil, se meteu. Ela pediu autorização do Ministério da Cultura (Minc) para captar R$ 1,3 milhão, via Lei Rouanet, para um blog de vídeos de poesia, gravados pelo cineasta Andrucha Waddington. Com a autorização, sua equipe pode bater na porta das empresas em busca da verba, que sai como isenção fiscal para os patrocinadores. Em última instância, é sim dinheiro público. O burburinho no Twitter, Facebook e outras redes sociais foi imenso. Imagino que a artista de Santo Amaro nem circula pelas redes sociais, mas certamente foi informada por seus assessores de toda a repercussão. Aliás, as grandes divas da música da Bahia não estão indo muito bem com a tecnologia, vide a discussão sem fim que Gal Costa teve com fãs (ou não) pelo Twitter. Ela foi inventar de fazer gozação com a preguiça de seu povo e acabou ouvindo poucas e boas. Porque é aquela história, a gente pode falar mal de nós mesmos, mas somente entre nós. Não pode divulgar por aí para todo mundo ver! Resultado: Gal fechou a conta no Twitter.

Voltando a irmã de Caê, não há como negar que o pedido de Bethânia foi legítimo. Ela utilizou artifícios que estão acessíveis a todos para um projeto. Não burlou a lei, nem se utilizou de brechas duvidosas para conseguir autorização do Minc. Mas, como disse anteriormente, em última instância é dinheiro que deixa de ir aos cofres públicos. Só que se alguém quer reclamar disso, que discuta a lei. Ao que me consta, não foi Bethânia que criou! O projeto, importante dizer, é bem mais que um blog: é um site de vídeos produzidos por um dos principais cineastas brasileiros. É caro? Creio que sim, mas também não poderia ser baratíssimo como alguns alegam. Afirmações bobas como "eu faço um blog de graça" não ajudam em nada na discussão.

O que precisamos analisar é o que tem aí de correto e de justo. Ok, está correto, mas é justo Bethânia dispor de todo esse dinheiro quando artistas menos conhecidos e influentes nada conseguem? Será que Bethânia não conseguiria patrocínios sem precisar recorrer às leis de incentivos fiscais? Muitas empresas fazem isso. Ao que parece, Bethânia está mal assessorada. Ela já foi bastante criticada tempos atrás por usar artifício semelhante. Acabou recuando. Agora, volta e tenta emplacar um projeto ainda mais polêmico. Se quem cuida da imagem dela fosse um pouco mais profissional, ia ver que uma condução desastrosa desse jeito colocaria Bethânia na berlinda. E também constataria que os estragos para a imagem da cantora custam bem mais que esse 1,3 milhão. Hoje em dia, qualquer polêmica vira fagulha na Internet e os nossos grandes artistas ficam a mercê da gozação e execração coletiva. Por sinal, bom esclarecer, adoro Bethânia. Mas nessa aí, ela pisou na bola.